Mary del Priore e o resgate da história real da Princesa Isabel
Quem acreditava que a Princesa Isabel era uma regente progressista capaz de administrar uma monarquia em agonia e ainda ter tirocínio e sensibilidade para abolir a escravatura, certamente estava enganado. Mary del Priore simplesmente desmistifica essa imagem da princesa que entendia tanto de política, quanto Dom Pedro II, seu pai, de física nuclear.
Em seu livro O Castelo de Papel, Mary mostra um Brasil atrasado, nos estertores da monarquia de Pedro II. Único país a manter a escravidão, no final do século 19, o Brasil era muito mal visto na Europa. E a Princesa Isabel, apesar de sensível ao apelo das forças progressistas, só assinou a Lei Áurea, porque influenciada pelo marido, o Conde D’Eu, francês, neto de um rei deposto, que tinha ideias liberais.
Aliás, boa parte do livro relata, com precisão, o confronto tácito entre o imperador Pedro II e o genro. O imperador chegou até mesmo a impedir sua participação na Guerra do Paraguai. Gastão, que viera ao Brasil para casar com a princesa na esperança de reinar e conquistar a honra na frente de batalha, seguindo a tradição de seus ancestrais, foi tolhido pelo sogro, a quem considerava “um homem cinzento”.
Esses são apenas alguns dos muitos detalhes cuidadosamente colhidos pela escritora Mary del Priore, que se amalgamam num texto delicioso, escrito com maestria. Em O Castelo de Papel, Mary revela, como em livros anteriores tipo Histórias Íntimas ou A Carne e o Sangue, o vigor de seu trabalho de pesquisa, que resgata um Brasil pouco conhecido dos brasileiros, tratado num texto marcante.
Mary vai em busca das pequenas histórias, que formam o mosaico maior da História do Brasil, especialmente do final da monarquia e início da república, expondo o contraste entre os novos ideais e um imperador decadente, embusteiro e incapaz de perceber a curso que mundo seguia no final daquele século. Ela resgata os detalhes mais comezinhos desse período, a partir das paredes íntimas do poder.
Leitura obrigatória para quem deseja conhecer a História do Brasil, por lentes mais críticas e menos conservadoras de muitos ditos historiadores.