Mas, afinal, de onde vem todo esse poder de Eduardo Cunha pra assombrar o Planalto?
É inegável que o Brasil vive, atualmente, um parlamentarismo branco. É o Congresso Nacional quem está impondo as regras do jogo e da governabilidade da presidente Dilma Rousseff. Os dois artífices desse cenário são Eduardo Cunha, presidente da Câmara, e Renan Calheiros, do Senado. Os dois, em estilos diferentes, desafetos do PT e da presidente.
Cunha conduz a Câmara com larga maioria. Se ele, antes de se eleger, já exercia considerável liderança na Casa, depois de eleito então, pilotando um dos maiores orçamentos da República e com disposição para instrumentalizar junto aos deputados, passou a ter um poder ainda maior. Pinta e borda, como se diz. E pauta a Câmara de acordo com suas ideias.
Veja esse caso da reforma política. Num dia, a Casa aprova fim da reeleição e mandato de cinco anos. Logo depois, derruba tudo e volta para o mandato de quatro. O caso da maioridade penal. A Casa votou num dia, e derrubou no dia seguinte o que votara antes. Ou seja, em matérias que não tem interesse de mudança, ele conduz a Casa num efeito sanfona, indo e voltando, para não chegar a lugar algum.
Ou apenas onde ele pessoalmente quer chegar. Como terceiro na hierarquia da República, atrás apenas da presidente Dilma e seu vice, Michel Temer, Cunha usa o poder e age como um dos mandarins do País. Sem esquecer que seu discurso extremamente conservador fascina parte da população, especialmente entre os evangélicos, o que lastreia boa parte de suas iniciativas.
O Palácio do Planalto ajudou a criar Eduardo Cunha, quando da desastrada estratégia na disputa pela Presidência da Câmara, agora terá de enfrentar um dragão enfurecido, sem a ajuda de um São Jorge.