É possível que a passagem do presidente Lula pela Paraíba tenha desagradado até mesmo a parte de sua militância, meu caro Paiakan. Afinal, o que devia ter ficado como principal marca de sua passagem, que foi a inauguração de parte das obras do Apodi, ficou em segundo plano, diante de suas declarações se comparando a Deus.
“Descobri uma coisa. Deus deixou o Sertão sem água porque ele sabia que eu ia ser presidente da República e que eu ia trazer água para cá.” Como se vê, até para o padrão Lula 3, foram no mínimo despropositadas, pra dizer o mínimo. Há muito não se ouvia, no Nordeste, uma região tão marcadamente cristão, uma declaração tão infeliz.
O Brasil não tem tido sorte, afinal. De um lado, um ex-presidente (Bolsonaro) se considera um mito, de outro, o atual presidente se autoproclama divino, aquele ser iluminado que anuncia com bravata ter sido capaz de desfazer um mal (a seca) que o Deus cristão criou. Nada poderia ser mais melancólico para um País de tanta desesperança.
Suas declarações fora de contexto não chegam, inclusive, em bom momento, quando está com a popularidade em baixa, e ainda enfrenta as turbulências de recentes atrapalhadas do Governo, como o caso do Pix, o rombo do INSS contra aposentados e pensionistas e, mais recentemente, batendo cabeça com aumento do IOF.
Sem falar, obviamente, em todas as polêmicas, que nada ajudam à sua popularidade, da primeira-dama Janja em suas andanças pelo mundo. E não apenas pelo incidente da China, para censurar o Tik Tok, algo que, por sí só, já é capaz de provocar muitos abalos sísmicos. Janja tem produzido uma polêmica por semana.
E o fato, meu caro Paiakan, é que, de sua passagem pela Paraíba, pouco ficou do mais importante, que foi a inauguração de uma obra. Sua passagem vai ficar marcada mesmo por suas manifestações de candidato a divindade, quando deveria estar em foco era sua candidatura à reeleição.