O Brasil vive um clima de Satiricon político, por Palmarí de Lucena
Em seu mais recente comentário, o escritor Palmarí de Lucena aborda as “situações absurdas e ridículas”, que permeiam a atividade política no Brasil, com personagens desprovidos de valores morais, numa espécie de Banquete de Trimalquião, celebrizado no livro “Satiricon”, de Petrônio.
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“Satíricon político
Situações absurdas e ridículas permeando o mundo politico e a sociedade contemporânea como um todo, nos remete à época onde personagens públicos e privados agiam como se fossem desprovidos de pudor ou limites morais e éticos balizando suas ações. Estamos vivendo uma versão moderna do Banquete de Trimalquião do Satíricon de Petrônio, a única diferença sendo a existência de valores judeu-cristãos e normas de conduta estabelecidas por sociedades secularmente democráticas, igualitárias e zelosas dos direitos básicos dos seus cidadãos.
Contradição, excentricidade, ambivalência e ambiguidade são as marcas do traço estilizado atribuído a Petrônio, criando situações absurdas e ridículas, transformando-as em tragédias sem nunca perder ou remover o manto negro do seu humor. Completa amoralidade dos seus protagonistas, o denominador comum de costumes que hoje considerados absurdos, vista com extrema naturalidade.
A conduta pessoal de políticos e empresários da atualidade abriu as cortinas de um mundo subterrâneo imbuído quase que naturalmente, na sublevação de valores básicos e o uso irrestrito da prática de deslizes éticos para obter vantagens indevidas e privilégios, por todos os meios necessários. Limites estabelecidos por leis e costumes são vistos como empecilhos enfadonhos da gincana frenética pela permanência no poder e acesso continuado a seus benefícios materiais. Hoje temos uma situação de vale-tudo amoral e a desintegração de princípios de civilidade e imparcialidade.
A vulgaridade do linguajar de políticos e pessoas na liderança das nossas instituições é uma fissura grave e perigosa no entendimento cordial que deveria existir entre colegas, políticos e pessoas com pontos de vista opostos. Aberta a Caixa de Pandora das interações de políticos e empresários, nos inteiramos com repugnância que a vulgaridade subterrânea se convertera em contraponto as gentilezas em público, vozes iradas recheadas de obscenidades dignas do Banquete de Trimalquião, no Século I. “