O depoimento de Lula e a carnavalização da democracia brasileira
Nada surpreendente nesses tempos conturbados, mas não deixa de impressionar o clima que beira à histeria nesse episódio do depoimento do ex-presidente Lula. Todos os dias, pessoas de todo o País, sentam perante um juiz para depor. Trata-se de um fato de normalidade democrática. Se há Justiça ou não, é uma outra história. Mas, em Curitiba houve a carnavalização da democracia. Tanto que terminou mesmo na avenida…
Do episódio, é possível depreender como, se Lula reclama da judicialização (tem lá suas razões) que o cerca nos últimos tempos, de outro, a Justiça estabelece um parâmetro de politização (também tem lá suas razões) de algo que deveria se limitar às fronteiras do processo legal. A verdade é que o depoimento se transformou, de um lado, num evento de pugilismo e, de outro, num palanque fora de época.
E o que se viu? O Ministério Público Federal tentando provar que Lula seria o real proprietário do triplex em Guarujá, e o ex-presidente rebatendo com os velhos trocadilhos de sempre, afinal, como ele mesmo diz, “se não tem assinatura, doutor (Sérgio Moro), não vem validade”. Resumo da ópera: se a Justiça não encontrar as provas da propriedade do imóvel, ficará em maus lençóis para condenar Lula…
Ficará porque perderá o apoio da opinião pública, que não terá como compreender culpa sem crime. E o ex-presidente poderá emergir extremamente fortalecido para enfrentar o julgamento dos demais processos. Ainda que, nesses outros, tenha até uma culpa concretamente formada.