O evangelho segundo os políticos, por Palmarí de Lucena
O escritor Palmarí de Lucena observa, em sua mais recente crônica, como o discurso político, cada dia mais, faz menções a Deus e a passagens da Bíblia, para mobilização de sua militância. “Teme-se que lideres eleitos por este eleitorado sucumbam a tentação de apoiar políticas, que na prática, discriminem outros credos, a exemplo das religiões de matriz africana ou dos povos indígenas”, diz Palmarí. Confira a íntegra de seu comentário “Evangelho segundo os políticos”:
Menções a Deus e a passagens da Bíblia são parte integral de uma narrativa, que tem se multiplicado em discursos políticos, formulação de políticas públicas e na mobilização do apoio evangélico, peça instrumental na eleição de políticos direitistas. Crescimento e influência difusa de igrejas pentecostais na ascensão e queda de líderes, é uma das principais tendências no cenário político da atualidade. Tendência esta acompanhada por crescente intolerância e tentativas de impor na população, valores morais e religiosos de uma base eleitoral egocêntrica. Teme-se que lideres eleitos por este eleitorado sucumbam a tentação de apoiar políticas, que na prática, discriminem outros credos, a exemplo das religiões de matriz africana ou dos povos indígenas.
Além da adoção de ritos condizentes com a cultura popular, outros fatores influenciam o crescimento da teologia política e ameaças ao laicismo do Estado Democrático. Músicas de louvor culturalmente relevantes, linguagem simples para discorrer sobre trechos bíblicos, expansão de iniciativas baseadas na fé para enfrentar problemas como criminalidade e dependência química com critério flexível para a formação de pastores, favorecem a expansão de cultos evangélicos em comunidades carentes da presença do Estado e imposição de políticas públicas de viés religioso.
Recentemente a polícia do Rio de Janeiro prendeu traficantes evangélicos, de um grupo chamado “Bonde de Jesus”, acusados de promover ataques a igrejas de matriz africana e de expulsar praticantes de candomblé e umbanda da Baixada Fluminense. Outros grupos neopentecostais, atormentam minorias religiosas com ações violentas. Concomitante com expansão das igrejas evangélicas, registra-se o crescimento rápido de pessoas que não têm nenhuma filiação religiosa, que já formam 10% da população brasileira na maioria jovens, são opostas às características que costumam definir os setores evangélicos e católicos conservadores. Futuros protagonistas em manifestações de rua contra a desigualdade, exclusão social e alto desemprego de jovens no País?