O Jampa Digital e a campanha “franciscana” de RC em 2010
Nos últimos dias, após eclodir o escândalo do Jampa Digital, em que a Polícia Federal, CGU e Ministério Público Federal constaram fraude em licitação e desvio de recursos para a campanha de Ricardo Coutinho, o governador concedeu algumas entrevistas, afirmando que tinha feito uma campanha “franciscana” ao Governo do Estado, 2010.
A declaração pareceu uma ironia, diante da montanha de indícios de que sua campanha foi irrigada com recursos do Jampa Digital. RC chegou a afirmar que, em 2010, fazia campanha em cima de um banco de praça. Bem, o cientista político Flávio Lúcio descobriu o outro lado da moeda (ops!) de suas declarações, especialmente com os sinais de uma campanha, na verdade, milionária.
Vale a pensa conferir seu artigo “A campanha ‘franciscana de RC em 2010”:”Três dias após a Polícia Federal tornar público o relatório das investigações da Operação Logoff, o governador Ricardo Coutinho colocou em andamento sua estratégia para enfrentar as graves denúncias contra pessoas muito próximas dele. O primeiro passo da estratégia tinha por objetivo desqualificar o trabalho realizado pela PF, insinuando ter ele a implícita intensão de não apenas atingi-lo – logo ele, tão republicano, tão ético, tão honesto, tão inatingível, – mas também a Eduardo Campos. O partido dos dois, o PSB, mantém uma relação de bigamia política com o PT: diz pretender lançar Campos à Presidência pela oposição, mas continua mantendo todos cargos do partido no governo federal.
O segundo estágio dessa estratégia veio carregada do recurso sempre usual da vitimização, quando políticos em apuro não sabem fazer outra coisa a não ser posar de Cristo na via-crúcis montadas pelos adversários, o que combinou bem com o contexto marcado pela visita do Papa, e especialmente deste que se chama “Francisco”, em homenagem ao santo dos pobres. RC tentou passar a ideia (não a “digital”, mas a analógica mesmo) de que sua campanha para governador teria sido de uma pobreza franciscana.
Foi como se o espírito de Jânio Quadros tivesse nele encarnado para rememorar a campanha do “tostão contra o milhão” que levou o homem que ia varrer a corrupção do Brasil à Presidência da República, em 1960, como se a UDN – vejam só! – pudesse ter sido algum dia na vida o partido do “tostão”.
Tentem escutar o que disse RC:
“Eu tenho uma vida muito clara e muito límpida. Minhas campanhas são absolutamente pobres. Todo mundo sabe disso, pode ver. Em 2010 nós ganhamos as eleições enfrentando um império, a Paraíba sabe disso. Era uma diferença tão grande que quem olhasse de fora acharia que jamais, jamais aquele pessoal que estava discursando em cima de um banco de uma praça, como nós fizemos aqui, porque não tínhamos dinheiro para um palanque, jamais poderiam ganhar as eleições de um poderio econômico como aquele”.
Quando eu escutei as lamúrias de Ricardo Coutinho, confesso que cheguei a imaginar o Palácio da Redenção ou a Granja Santana transformadas num altar sacrifical, para onde aquele pudico senhor fora levado por vingativos policiais, a mando de ocultas forças do mal. Logo ele, que quando era prefeito repetia como um bordão que “não roubava e não deixava roubar”, como a insinuar que outros não apenas roubavam, como deixavam roubar.
Pois bem. Tive a curiosidade de ver esses bancos de praça que RC utilizou para fazer seus discursos em 2010. Eis abaixo o resultado de uma breve pesquisa na internet. Como é possível notar, a pobreza franciscana das praças só perde mesmo para a pobreza com que o governador vive na Granja Santana.
Depois disso tudo, lembrei-me de um provérbio chinês: “Quem a si próprio elogia, não merece crédito.”
Observação final: as imagens acima mostram que o banquinho da praça de RC era, na verdade, um confortável e luxuoso ônibus, e um palco ultrsmoderno muitas vezes mais “em conta” que um simples banco de praça…