O maniqueísmo político dos nossos tempos, por Palmarí de Lucena
A crônica do escritor Palmarí de Lucena, desta semana, trata do “Maniqueísmo desagregador” que tem marcado as relações políticas e sociais. Palmarí observa como as redes sociais, um fenômeno da contemporaneidade, alimentam o ódio entre as pessoas, numa cultura maniqueísta, dualística, em que um lado é o bem e outro, o mal. Confiram a íntegra de seu comentário:
Profeticamente intitulado “1984”, o romance escrito por George Orwell em 1949 é uma distopia que projeta como seria a vida no futuro distante de 1984. Totalitarismo é o mote que embala a narrativa sobre o mundo ficcional criado pelo autor, nele televisores monitoram e controlam a população, nenhum cidadão tem mais direito a privacidade. Sempre atentos a mensagem opressiva de que o BIG BROTHER está de olho em você… Comportamentos imaginários abordados por Orwell se repaginaram nos dias de hoje, são parte e parcela da força da alienação que cresce na fragilidade, que nos limita a identificar unicamente o que nos separa e não o que nos une.
No mundo real, incluindo as democracias, também usamos aparelhos eletrônicos capazes de nos vigiar initerruptamente: notebooks, celulares, tabletes, drones e CCTVs. Disponibilizamos na internet dados sobe nossa localização, número de celular, interesses e outras informações importantes, sob a ingênua premissa de que não estamos sendo vigiados ou que nossa privacidade não está sendo violada por algum órgão do governo. As pessoas internalizam as ideais que lhes são passadas como verdade, por meio de repetição, sem nunca ter a energia e tempo para verifica-las. Sessenta e duas mil repetições formam uma verdade, afirmou Aldous Huxley.
Redes sociais alimentam o ódio por qualquer posição contrária expressada por um internauta, fomentando uma ruptura dualista entre proponentes de visões ou conceitos diferentes, mesmo aqueles sem cunho político-partidário. Propositadamente ou com cegueira deliberada criamos um maniqueísmo político, fragmentando o povo entre o bem e o mal. Alegar que o discurso que alimenta este ódio é produzido tão somente por forças tenebrosas, de tal forma que escolher um lado e defendê-lo como o lado do “bem” é no mínimo ingenuidade. É difícil imaginar um Brasil mais justo e solidário, enquanto permanecermos atolados no lamaçal do ódio e do medo que nos divide, nos oprime e limita nossa capacidade de crescer como um povo e uma nação.