O melancólico fim de Eduardo Cunha, suas mentiras e seu cinismo
Não vou negar. O que mais me impressionou após a cassação de Eduardo Cunha foi sua tranquilidade. Qualquer outro, teria baixado a guarda e sequer entrevista teria concedido. Mas, ele não. Estava lá de caradura, respondendo a todas as perguntas e respondendo com o habitual cinismo como, aliás, sempre tratou esse processo desde o início.
Insistiu na mentira tantas vezes repetida de que não cometeu crime e não tem contas no exterior, algo sobejamente comprovado no relatório que apontou por sua cassação. Impressiona como ele inventou sua própria ficção e acredita nela. É uma personagem a se estudar. É um espécime resultante da mutação que atingiu a política brasileira nos últimos tempos.
A verdade é que o Congresso já não pode mais condescender com parlamentares delinquentes. Dia desses foi Delcídio do Amaral, agora, Cunha. É possível que venham outros. O problema é que a mídia nacional bem ou mal está expondo as vísceras da prática política no País, e essa exposição malcheirosa leva a população a agir.
Porque foi de fato a indignação dos brasileiros que levou Cunha ao cadafalso. Em outros tempos, sem o trabalho da mídia, seria possível manobrar nos intestinos do Congresso para salvar malfeitores. Bastava abafar o caso e pronto. Tudo era resolvido entre os “bons companheiros”. Agora, não é mais possível. Não dá simplesmente para abafar.
A cassação de Cunha demorou. Um recorde, certamente. Mas, até esta demora só fez aumentar a indignação da população, que se tornou bem mais exigente. A partir de agora, muitos vão pensar duas vezes antes de mentir e patrocinar as traquinagens com o dinheiro público. Essa, sim, a lição mais importante que fica de todo esse episódio.