O papel (higiênico) do governador
Qual deverá ser mesmo o papel de um Governo? Bem, um governante sério deve combater a corrupção, administrar com responsabilidade e zelo, oferecer saúde, educação, segurança e cuidar para a sua gente ter dignidade e trabalho. Pra responder rápido: o governador Ricardo Coutinho tem sido capaz de oferecer isso aos paraibanos?
Por partes. A saúde, como sabemos, está um caos, no dizer dos próprios profissionais médicos. Veja o recente caso do Hospital de Trauma, onde falta de analgésico a fio de sutura. Há dois anos, a Paraíba carrega a Cruz Vermelha com a qual o governador brindou os paraibanos, dando um atestado de incapacidade para gerir o hospital.
Na educação, o senhor governador fechou mais de 200 escolas públicas, deixando dezenas de crianças e adolescentes entreguem à própria sorte do ócio que, quase sempre, leva ao convívio com a marginalidade e às drogas. De quebra, iniciou um perverso processo de desmonte da UEPB, um patrimônio do Estado e orgulho dos paraibanos.
Falar sobre segurança é como bradar ao vento na Paraíba. Sob gestão girassol, a Paraíba chegou ao posto nada louvável de terceiro Estado mais violento do Brasil. A região da Grande João Pessoa se tornou a nona mais violenta do mundo. Num cenário em que o próprio secretário de Segurança admite que os números na verdade são até piores.
No capítulo trabalho, a Paraíba assistiu, no início da gestão Ricardo Coutinho, a maior operação de desemprego que se tem notícia na Paraíba: a demissão de aproximadamente 30 mil servidores prestadores de serviço, alguns deles com mais de 20 anos no exercício público. Claro que preencheu todas essas vagas com os seus, como se sabe.
Administrar com responsabilidade. Ter responsabilidade seria, pelo segundo ano consecutivo, não atingir as metas de aplicação dos 25% constitucionais com educação? Pior: às vésperas de encerramento do ano fiscal, adquirir da forma mais suspeita 120 mil carteiras escolas sem licitação. Será esta a forma de administrar um Estado com responsabilidade?
Zelo com o erário. Aqui, o capítulo mais grave. Que zelo tem um governante que adquire papel higiênico a R$ 59,80? Ou compra 7,5 toneladas de carne de primeira em sete dias para abastecer as despensas da Granja Santana? Ou cerca de R$ 7 mil em cueiros e assemelhados para o bebê real? Mais sais de banho, espuminhas e outros mimos imperiais…
Tão zeloso é nosso governador que tentou impedir a população de ter o conhecimento sobre essas comprinhas, no dizer deles “uma bobagem, erro de contabilidade”, querendo impor um sigilo ao relatório de auditores do TCE. Problema foi no meio do caminho ter o jornalista Rubens Nóbrega, que deu publicidade aos atos que deveriam ser públicos.
O interessante é que todos cumpriram bem o seu papel. Os auditores fiscalizaram os gastos do Governo, Rubens fez jornalismo ao divulgar e até mesmo a população cumpriu seu papel de se indignar. Já o governador cumpriu apenas o papel higiênico de tentar impedir que a sujeira viesse a púbico, pois o papel verdadeiro de gestor ele não consegue exercer, especialmente quando mistura sua vida pública com a privada.