O perigoso ardil de Trump com a Venezuela, por Palmarí de Lucena
Em seu mais recente comentário, o escritor Palmarí de Lucena observa que a iniciativa do presidente Donald Trump em reconhecer o oposicionista Juan Guaidó, na Venezuela, pode pavimentar uma possível intervenção militar. E alerta, que “nossa política externa (do Brasil) não deve tornar-se um apêndice do intervencionismo de Trump”. Confira a íntegra de sua crônica “Perigoso ardil”:
A declaração do Presidente Trump reconhecendo o oposicionista Juan Guaidó como presidente interino e questionando a legitimidade do regime de Nicholas Maduro, abriu as portas para uma possível intervenção militar. A intromissão de Trump na crise venezuelana, possivelmente não criara condições para um acordo pacífico envolvendo a Oposição, Chavistas e as forças armadas, por ser visto como um líder propenso ao uso e abuso de sanções e decisões unilaterais sobre o alcance do poderio militar americano.
Por mais de cem anos, os Estados Unidos têm participado de operações encobertas para ajudar movimentos direitistas e forças castrenses assumir o poder na América Latina. Abraçando a história destas intervenções, Trump nomeou o diplomata Eliott Abrams, veterano de ações encobertas na América Central, como o ponto focal da Venezuela. Condenado por mentir ao Congresso sobre operações militares ilegais do Governo Reagan, também participou no fracassado golpe contra Hugo Chávez em 2002.
A ausência de ações peremptórias das forças militares para suprimir manifestações pacíficas, no entretanto, não significa a adesão ou reconhecimento do governo interino. Os militares aspiram manter seus privilégios e imunidade, como recompensa por facilitarem a transição. Thomas Jefferson afirmou: “A concentração de poder nas mesmas mãos é precisamente a definição de governo despótico.”
O Brasil e a Colômbia deveriam ser protagonistas na formulação de uma estrutura regional para uma transição pacífica, em cooperação com o México e o Uruguai, países que ainda reconhecem o regime de Maduro. Nossa política externa não deve tornar-se um apêndice do intervencionismo de Trump. A Venezuela pode transformar-se em um modelo de conflito global, mais incontrolável e menos previsível do que a bipolaridade ideológica do século XX: populismo direitista e intervencionista contra os resquícios ditatoriais do regime de Maduro. A democracia tem sua chance nesta batalha, algo que ainda não foi demonstrado claramente na Venezuela.