O poder do abandono na Praça dos Três Poderes
Em tempos não tão remotos, foi um cartão de visitas de João Pessoa. Hoje, parece representar apenas a decadência. Talvez até do próprio poder. A Praça dos Três Poderes é o retrato do abandono. O visitante que por lá se aventura, certamente vai levar uma péssima imagem da Capital da Paraíba.
As imagens colhidas por Palmari Lucena expõem a incompetência do poder público para zelar pelo patrimônio que é do povo. O que se vê são calçadas quebradas, lixo, bancos destruídos, ferragens retorcidas e derrubadas. A Praça João Pessoa simboliza hoje 0 merencório epílogo de um modelo administrativo.
Reina a indeferença a poucos metros do Palácio da Redenção, do Tribunal de Justiça, da Assembleia Legislativa e do Ministério Público. Nem a beleza amarela dos Ipês florescidos consegue disfarçar o descalabro na praça. Triste sina da praça que sediou tantos eventos históricos da Paraíba.
E, a proposito, também vale conferir a crônica de Palmari sobre o que suas lentes captaram, além do descaso e a incompetência administrativa:
“Marco zero da Praça João Pessoa. Caminhávamos sem pressa, um peregrino dando voltas em torno da Caaba da sua juventude. Lembranças dos tempos de quando este era o chão comum da cidade. Cerimônias cívicas celebrando a vida, os feitos e a morte do filho ilustre. Desfiles patrióticos, ciclistas quebrando recordes de resistência, festas improvisadas sendo anunciadas, romances começando ou terminando. Tudo acontecia sob a mira dos três poderes que a cercavam. Misto de tabaco e a fragrância doce da grama recém cortada permeavam o ar.
Tudo havia mudado. A lumpenização dos lugares públicos do centro da cidade mostrava suas garras implacáveis. Mundo informal crescendo e prosperando à revelia da formalidade dos três pilares da nossa democracia. Lavadores e guardadores de carro; ambulantes vendendo tabaco, comida e toda quinquilharia que pudesse estimular os transeuntes e habituées a contribuir para a economia de sua sobrevivência. Pequenos grupos, afins ou em facções adversárias, discutiam ou antecipavam os últimos acontecimentos políticos, sempre emoldurados em interesses pessoais. Todos se diziam certos, todos estavam errados. Os vencedores reais estavam em seus gabinetes.
Decadência, desordem e vandalismo. Grama queimada pela falta d’água, pisoteada indiscriminadamente ou maculada por sacos de plástico e migalhas de parcas refeições; bancos de madeira quebrados ou em condições precárias; carros de ambulantes seguindo grupos de turistas; árvores mal cuidadas oferecendo refúgio a sapateiros e outros trabalhadores informais.
Mulher sentada confortavelmente em banco próximo ao tribunal, observando nossos movimentos com discreta atenção. Vestida modestamente, talvez uma funcionária em hora do descanso. Atraiu nossa atenção com um movimento súbito de mão, queria saber se éramos turistas ou trabalhávamos em uma repartição. Fotografando os problemas da praça, afirmamos. Pareceu decepcionada. Estava no seu lugar de trabalho, era uma trabalhadora do sexo. Homens casados na hora do almoço, seus melhores clientes. Sexo a preços módicos. Rápido, eficaz, discreto. Melhor valor pelo dinheiro. Poder público distante e impotente propiciava condições ideais para a sobrevivência do seu oficio na nossa praça.”