O PSB conseguiu apenas 8,7% do PIB eleitoral do Estado. Campos vem comemorar o que?
Interessante o comentário postado pelo jornalista Sérgio Botelho, de Brasília, que analisa os números do PIB eleitoral do Estado, emergido dessas eleições, e constata que, apesar de ter eleito 35 prefeitos, o PSB tem apenas 8,7% dos eleitores do Estado. Mesmo assim, o governador Ricardo Coutinho estará recebendo seu colega Eduardo Campos, na primeira semana de novembro, para comemorar. Mas, comemorar o que?
Ora, dessas mesmas eleições emergiram muito, muito mais fortes partidos como o PT, que pode ir a 33,4% do PIB eleitoral do Estado, caso vença a disputa em João Pessoa (conforme sinalizam todas as pesquisas publicadas) e o PMDB tem 20,5% (elegeu 60 prefeituras) e pode chegar a empatar com o PT, caso vença a disputa de segundo turno em Campina Grande. E olha que o PSB é o partido do governador.
Eis a análise completa de Sérgio Botelho: “O PSB paraibano tem festa marcada para comemorar a positiva performance que, segundo o governador Ricardo Coutinho, teve o partido nas eleições locais deste ano. Segundo as contas feitas pela cúpula socialista, a olhos nus, houve um acréscimo de 24 prefeituras às 11 anteriormente ocupadas por prefeitos da legenda, e, assim, a partir de 2013 os correligionários de Ricardo passarão a gerir 35 prefeituras. Se houvessem feito os cálculos com lentes apropriadas para ler a realidade mais aprofundadamente, os socialistas veriam que não há a mínima razão para euforia. Pelo contrário.
Foi o que fiz, por exemplo, quando decidi cruzar os dados gerais da recente eleição municipal, visando descobrir o que cada partido efetivamente ganhou ou perdeu, no primeiro turno das eleições paraibanas, o que ainda pode acontecer no segundo, e entender os motivos que leva o PSB a tanto regozijo, a ponto de deslocar de seus cuidados em Recife o presidente nacional da legenda, o governador pernambucano Eduardo Campos, para uma festa em João Pessoa, proximamente. Estupefato, descobri que ou o PSB paraibano decidiu blefar, levando em consideração que os mais são bestas, ou não fez as contas direito, o que não se concebe nos dias de hoje para quem se propõe (e não há outro caminho) a fazer política o mais cientificamente possível.
De bate pronto já revelo o seguinte: os 35 municípios conquistados por candidatos vinculados ao PSB têm o tamanho, apenas, de 8,7% da soma dos PIBs do conjunto dos municípios paraibanos, segundo dados do IBGE referentes a 2010. Ao perder João Pessoa, o PSB abandonou, conforme referidos dados, um PIB de R$8.638.329.000, equivalente à soma dos próximos sete maiores PIBs municipais paraibanos, que, juntamente com o da capital, maior do Estado, compõem o G8 da economia da Paraíba. Somando os PIBs de Campina Grande, Santa Rita, Patos, Bayeux, Sousa, Cabedelo e Cajazeiras, o que dá um total de R$8.567.430.000, segundo os números de 2010, João Pessoa ainda não é ultrapassada.
Tamanho valor pode acabar no colo do PT, caso sejam confirmados os números das pesquisas de intenção de voto na corrida pelo segundo turno na Capital. No primeiro turno, o partido de Luciano Cartaxo conseguiu, com os cinco municípios conquistados pelo estado afora, apenas 1% do PIB estadual. Pois bem: caso os petistas assegurem a vitória em João Pessoa, o partido passa a gerenciar 33,4% do PIB paraibano. Não é pouco. E com um significado político enorme. Sem falar que, mesmo não fazendo o prefeito campinense, o PMDB já tem, com os quase 60 municípios conquistados pelo partido, 20,5% do PIB do estado. Se ganhar Campina, o PMDB empata com o PT, passando a 33,4%. Convém salientar que são partidos na oposição ao atual governo.
No campo dos aliados do PSB, o PSDB, que lidera as pesquisas de opinião em Campina, caso confirme o favoritismo, e ganhe o pleito campinense, passará a gerenciar 17,6% do PIB paraibano. Será um aliado bem mais forte do que o próprio PSB, que chefia a aliança. Passado o primeiro turno, os tucanos emergiram com apenas 4,7% do PIB estadual. O DEM e o PSD, com 4,7% e 3%, respectivamente, somam 7,7%. Ao todo, PSB, DEM e PSD, parceiros principais do poder, poderão concluir o pleito municipal governando municípios que somam 34% do PIB estadual, caso Romero Rodrigo vença em Campina. É o máximo a que podem chegar. O PDT sequer chegou a 0,4%, o maior fiasco desse pleito, e não ajuda nada nos cálculos do governismo.
O clima vivido pelo governador Ricardo Coutinho talvez se coadune mais com o revelado por ele próprio: não vai votar no segundo turno. Pode até ter acontecido, porém, nunca ouvi falar na história de um governante brasileiro, comprometido com a democracia, que anunciasse sua disposição, a não ser por doença gravíssima, de que não vai comparecer às urnas para votar. Ele próprio, Ricardo, beneficiado pelo voto durante a maior parte de sua vida, dedicada à política. Olha: até presidentes e governadores do período autoritário, inaugurado em 64, votavam. Ao anunciar sua ausência, transmite a impressão de enjôo com a democracia, quando esta não lhe possa trazer benefício. E de que pode estar mesmo altamente desapontado, ao invés de feliz e disposto a festejar uma suposta vitória.
Não dá bom exemplo à formação democrática de centenas de jovens que costumam observar o comportamento de seus governantes, para seguir-lhes. É lamentável! Esteja ele desapontado, ou não, teria obrigação de fazer qualquer sacrifício para votar. Seu comportamento pode, sem exagero de quem assim o fizer, ser entendido como escárnio. Escárnio ao voto, ao eleitor, ao Estado de Direito.”