Obrigado, seu ladrão!
Resisti muito em escrever este texto. Quem me conhece sabe o quanto evito tratar de questões de cunho pessoal neste espaço. Entretanto, uma vez que se trata de um problema que, notoriamente, atinge a maioria da população da Paraíba, nos últimos tempos, não pude me furtar de escrever. Seria talvez uma omissão, uma covardia.
Refiro-me ao assalto de que, há poucos dias, minha filha Bianca foi vítima numa das ruas mais movimentadas do Bairro da Torre, meu caro Walter Santos. Vítima, como tantas outras biancas, marias, cristinas e josefas, ela se viu obrigada ao constrangimento de entregar seus pertences a um bandido, que ameaçava com uma arma.
Apesar da inominada violência moral (e só quem é vítima sabe do que falo), o bandido não resvalou para a violência física. Então, escrevo este texto para agradecer: Obrigado, seu ladrão! Obrigado por “apenas” roubar. Não são poucos os casos na Paraíba em que o bandido, não satisfeito em roubar, também agride, quando não faz pior.
Poderia me queixar pelo assédio moral do bandido. Mas, a quem? À Justiça? Ao Governo do Estado que afirma todos os dias estar conseguindo reduzir a criminalidade? Ao senhor bispo que, dia desses, também foi “visitado” por bandidos, mesmo protegido nas alturas de seu condomínio vertical? Na verdade, nós, cidadãos que pagamos impostos, estamos desamparados.
Tudo conspira contra o cidadão, que paga para ter uma segurança que não tem. Neste particular, temos um Governo caloteiro, que recebe e não entrega. Então, não temos onde prestar queixas, pois a maioria das delegacias está fechada. No máximo, o cidadão consegue prestar queixa pela Internet para uma máquina que, do outro lado, jamais irá investigar a sua queixa.
Antigamente, o cidadão pelo menos tinha a possibilidade de se queixar a um delegado ou investigador. Podia nem ter o desvendamento do roubo de que foi vítima. Mas, de certa forma, pressentia a presença do Estado a amparar seu desespero. Hoje, nem isso existe mais. Não há simplesmente a quem se queixar, até porque a criminalidade está banalizada na Paraíba. Não há rigorosamente ninguém no Estado que não tenha uma história de violência para contar.
Então, uma vez que não temos a quem dirigir nossas queixas, não nos resta outra alternativa a não ser agradecer ao bom ladrão, aquele que apenas rouba. Obrigado, seu ladrão!