Onda de protestos: por que os paraibanos vão às ruas?
Sempre esteve claro que não eram apenas pelos centavos a mais nas passagens, ainda que o valor pesasse no bolso de pessoas mais carentes. Era muito mais que isso. Era o grito preso na garganta de quem sofre com um serviço de saúde precário, com uma educação deficiente, com a escalada de violência, de corrupção e uma malha de transporte público medieval.
Em algum momento, os custos elevados para a realização da Copa do Mundo levou as pessoas a refletirem: se o Governo tem tanto dinheiro pra gastar com estádio, por que não tem para oferecer uma educação decente (salários dignos aos professores), hospitais de qualidade, um combate efetivo à violência e à corrupção? É má gestão ou má vontade com o povo?
Assim, o que se percebe é a contextualização das manifestações. O que pesa mais no ânimo é o problema mais próximo. Em São Paulo, a queixa maior é violência? Então, vamos pra rua principalmente contra a violência. Na Paraíba não poderia ser diferente. O que mais pesa por essas latitudes? A violência, transportes público precário, saúde na UTI e, caro Paiakan, tantos escândalos…
Quando se fala em transporte público e mobilidade, vamos lembrar que algumas cidades como João Pessoa e Campina Grande se tornaram uma armadilha para motoristas e uma emboscada para os pedestres. Em alguns horários, congestionamentos indecentes por falta de investimento em infraestrutura. Nos ônibus, pessoas são transportadas como animais. Por quanto tempo dava pra aguentar calado?
No capítulo da violência, vimos a Paraíba figurar no ranking nacional como o quarto Estado mais violento. João Pessoa foi para o ranking da CNN Internacional com a 10ª cidade mais violenta do mundo. É fato indiscutível. Então, as pessoas vão para as ruas por conta das passagens, mas especialmente por causa da violência que banaliza a vida e afronta a cidadania.
A Paraíba foi o Estado que fechou mais de 200 escolas públicas. Não tem justificativa. Por mais que restasse numa dessas escolas apenas um aluno ainda assim não se justificaria fechar uma escola, porque simplesmente não há saída para o futuro que não seja pela via da educação. Foi talvez o maior erro do atual Governo, pelo qual pagará um alto preço no futuro.
E o que dizer da saúde privatizada, operação apresentada aos olhos do distinto público como pactuação? Como se a mudança do termo mudasse o sentido oculto da terceirização, com custos astronômicos. Se o Governo tem R$ 8,8 milhões para bancar a Cruz Vermelha gaúcha, por que não tem os mesmos R$ 8,8 milhões para gerir o maior hospital do Estado? O povo viu isso.
Como viu a escalada de escândalos, cuja genética vem de muito. Dá pra esquecer, por exemplo, o Jampa Digital que, inclusive, serviu de mote eleitoral? Será que o povo esqueceu a SP Alimentação, Gari Milionário, esquema fraudulento de compra de carteiras denunciado pelo Ministério Público? É um longo rosário, entre os mais antigos.
E há os mais novos, tipo: gastança na Granja Santana de mais de 17 toneladas de carne de primeiro, lagosta, camarão, papel higiênico mais caro do mundo, berço esplêndido, uso de avião oficial para uso pessoal, aliás, o pior: desviar o dinheiro destinado à construção de uma maternidade (em Catolé do Rocha) para a compra dessa aeronave.
E há muito mais, entretando, por ora, fiquemos somente (!) com esses. Então, o povo precisa de mais motivos para ir às ruas? E, por favor, senhores do poder, deixem se jogar a culpa na Imprensa e assumam suas (ir)responsabilidades!