Os perigos da censura e da autocensura, confira com Palmarí de Lucena
O escritor Palmarí de Lucena comenta, em sua última crônica, sobre “os perigos da censura”, num mundo caracterizado pela fluidez. Palmarí fundamenta suas ideias a partir de livros como “O menino que espiava pra dentro”, da escritora Ana Maria Machado, onde o protagonista, após se engasgar com uma maça, volta-se para o interior e vive num mundo de imaginação, e então reflete sobre a autocensura da liberdades individuais como um dos males do século.
Confira a íntegra de seu comentário…
Imagine viver em um mundo distópico onde as pessoas não são donas dos seus pensamentos, as obras de grandes pensadores são apagadas da existência e tudo que é beleza e livre, substituído por um sistema de controle sujeito a manipulação do governo. A novela Fahrenheit 451 do escritor Roy Bradbury, nos conscientiza sobre o impacto da censura e sua imposição nas pessoas vivendo em uma sociedade futurística. Sociedade esta, onde toda criação literária transforma-me em criadouro de controvérsias inúteis, desencorajando a individualidade e o pensamento. Protestado contra a censura da literatura escrita dos anos 50, a novela nos alertou sobre o perigo de uma sociedade sem conhecimento, tornar-se dependente e vulnerável ao controle e manipulação estatal.
O livro “O Menino Que Espiava Pra Dentro” da escritora Ana Maria Machado, transformou-se recentemente em mais uma vítima das guerras culturais, municiadas por narrativas venenosas disseminadas nas redes sociais. Publicado há 35 anos, o livro narra o exercício imaginativo do garoto Lucas no qual ele sugere, que ao se engasgar com um pedaço de maça ele conseguiria viver no “mundo de sua imaginação”. Acusado de ser um manual para ensinar crianças como suicidar-se, seus algozes demandaram a remoção do livro das livrarias e bibliotecas, sem apresentar evidência que uma criança se suicidara devido a experiência imaginaria de Lucas. Segundo a autora, a história revolve “[…} em torno de imaginação e realidade, e da solidão do filho único que quer um irmãozinho, cria um amigo imaginário, deseja cada vez mais viver num mundo de sonhos com esse personagem inventado”.
Intimidando escritores e meios de comunicação a valer-se da autocensura, como uma armadura protetora de ataques por pessoas ou grupos com visões morais opostas. A autocensura é o controle censório dos próprios atos para evitar enraivecer ou ofender outras pessoas, sem ser orientado oficialmente que tal controle é necessário. Orwell nos alertou sobre os efeitos corrosivos da autocensura nas liberdades individuais, a forma mais cruel de censura.