Paraiba perde o Dorgival das Taperoás de Ariano
A última vez que estive com Dorgival foi durante o lançamento do meu livro Dom Agapito, no Centro Cultural de Zarinha. Conversamos pouco. Ele quase não ouvia mais e demonstrava muito cansaço. Falamos um pouco sobre literatura e sobre Ariano Suassuna. Eu falava o quanto considerava Suassuna o maior escritor brasileiro vivo. Depois, por intermédio de Dorgival, estive na casa dele em Recife, levando o exemplar do meu livro.
É lugar comum falar isso, mas sua morte, deixa uma lacuna de ombridade na política da Paraíba, se bem que nem militava mais. Mas, tanto quanto o estimado e amigo jornalista Walter Santos, opto por publicar um artigo do escritor Eilzo Matos, para ilustrar algumas das qualidades do ex-prefeito e ex-governador Dorgival Terceiro Neto, e uma delas era o “caráter incorruptível”. Um mineral raro nesses tempos republicanos.
Dorgival, que nasceu em Taperoá (em tupi-guarani significa o “morador das ruínas”) faleceu nessa sexta-feira (dia 12), em João Pessoa, vitima de parada cardíaca, após ter sofrido um AVC. Ele foi indicado prefeito de João Pessoa, em 1971, pelo então governador Ernani Sátiro. Depois, eleito vice-governador termina por assumir o Governo, com a desincompatibilização de Ivan Bichara. Era também membro da Academia Paraibana de Letras.
Confira o artigo de Eilzo: “A minha lembrança de Dorgival Terceiro Neto sustenta-se na sua crônica de estudante no colégio de Patos, depois hóspede da Casa do Estudante em João Pessoa – quando a Paraíba começou a conhecer e admirar a fortaleza do seu caráter incorruptível. Daí pra frente a índole, o temperamento definiram o cidadão que permaneceu impoluto como convém a todos, ao homem público principalmente.
Não privei de sua convivência no período de sua vida estudantil. De uma geração, um pouquinho mais nova, e estudando no Recife, pessoalmente não o via, mas a sua legenda chegava aos meus ouvidos nas terras pernambucanas.
Era o sertanejo que não traía a fala e os hábitos. Autêntico. Conheço gente de Sousa que fala “axs coisaxs”.Tipos também chiam aqui de João Pessoa. Dá pena. Conheci Abelardo Jurema, o velho, que morou a vida toda no Rio de Janeiro e não tinha esses tiques na pronúncia. O Abelardinho pode chiar porque nasceu e criou-se no Rio. Dorgival não chiava. Mas o meu conterrâneo João Estrela falar “axs exscolaxs” faz pensar que a sua popularidade política tem aí suas raízes, porque desconheço outro mérito intelectual ou profissional que o destaque.
E como administrador público nem se fala. Antônio Mariz achava que a risada de Zé Dantas acabara a liderança de Jacob Frantz em São João do Rio do Peixe. Não encontrava outra explicação. Isso me disse muitas vezes, matutando métodos para as nossas campanhas eleitorais.
Mas voltando ao caro Dorgival, assinalo a sorte, o destino que o fez vizinho de moradia, nas proximidades do Clube Cabo Branco, do matuto-político-escritor Zé Cavalcanti. Acocorados os dois na calçada eles conversavam como bons sertanejos. E os moradores do bairro passavam e os cumprimentavam, e não viam nada demais. Como governador Dorgival era o mesmo homem: reto, digno, beradeiro.
Sousa e a família Mariz lhe devem a pesquisa que descobriu no João Belchior Marques Goulart um “Marques” de Sousa, que mandou para os pampas bacharéis ilustres que lá se fixaram como Benedito Marques da Silva Acauã, parente também do nosso jurista Antônio Elias de Queiroga.
A cidade de Sousa alardeou por muito tempo a sua performance política na Camara, no Senado, no Governo do Estado. Faltava a Presidência da República. Pois Dorgival ilustrou a nossa tradição com a sua pesquisa, que lhe conferiu o exercício do mais alto cargo da Nação. Os marizistas comemoraram.
Muito mais tenho para dizer, mas o farei noutra oportunidade. Finalizo chamando a atenção para os vultos ilustres que Taperoá tem dado à Paraíba: cito Ariano Suassuna, Dorgival Terceiro Neto, Manelito Vilar e Balduino Lelis. Por enquanto.”