PENSAMENTO PLURAL A arte de representar sem representar, por Palmarí de Lucena

Em sua nova crônica, o escritor Palmarí de Lucena A denuncia a “atuação decorativa da bancada paraibana no Congresso, que prioriza agendas institucionais conservadoras e interesses corporativos, enquanto ignora os reais problemas do Estado”. Apesar do prestígio de figuras como Hugo Motta e Daniella Ribeiro, falta compromisso com projetos estruturantes para a Paraíba. A política se torna autopreservação, e o povo, mera estatística eleitoral. Confira íntegra…

Na capital da República, onde os tapetes escondem mais do que mostram e as palavras pesam menos que as alianças, a Paraíba assiste — da ponta da fila — à encenação de sua própria ausência. Lá estão os eleitos, com crachás reluzentes e gabinetes refrigerados. Alguns ocupam cargos de destaque, presidem comissões, comandam sessões e sorriem em plenários vazios. Mas o que falta não é poder. É projeto.

Hugo Motta, o mais jovem presidente da Câmara desde a redemocratização, desce as escadas do poder com desenvoltura. Daniella Ribeiro, senadora de fala firme, reina em comissões de ciência e tecnologia. A bancada se reúne, vota em bloco, acena para as câmeras e distribui notas para a imprensa. Mas entre a visibilidade e a efetividade estende-se um vale profundo onde jazem os verdadeiros interesses da Paraíba: o semiárido esquecido, as estradas esburacadas, os jovens sem escola técnica, a ciência que mingua nos laboratórios vazios da UFPB.

Enquanto isso, o Congresso Nacional se ocupa — com esmero e solenidade — da criação de estruturas que garantam sua própria perpetuação. Comissões, frentes, reformas regimentais, aumento de cadeiras, blindagens processuais. A pauta institucional — conservadora e autossuficiente — ganhou mais relevância do que qualquer plano nacional de enfrentamento da miséria ou de fomento ao desenvolvimento regional. O Parlamento virou cartório de seus próprios privilégios.

E nossos representantes, mesmo sentados à mesa das decisões, preferem o conforto da conveniência à dureza da urgência. Poucos se insurgem. Poucos colocam o dedo no mapa da Paraíba e dizem: “é aqui que falta água, é aqui que morre criança por falta de UTI, é aqui que o trem não chega, é aqui que a terra arde”.

Os problemas da Paraíba não aparecem nos discursos. Nem nas emendas, nem nas prioridades. O debate sobre energias renováveis passa ao largo de nosso potencial eólico. O combate à desertificação, que deveria estar no centro das estratégias ambientais do país, sequer é mencionado. E as políticas para a juventude do interior — que ainda vê a educação como a única saída possível — são ignoradas em favor de benefícios pontuais, de alta visibilidade e baixa profundidade.

A Paraíba não precisa apenas de parlamentares com prestígio. Precisa de porta-vozes de um projeto. De políticos que discordem no caminho, mas concordem no destino: um estado menos ornamental no mapa político e mais protagonista no mapa do desenvolvimento.

Mas o que se vê é a política como profissão. O mandato como franquia. O povo como massa digital. E Brasília como palco de uma peça em que a Paraíba, mais uma vez, entra muda e sai calada.

Até quando?

 

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