PENSAMENTO PLURAL A bolha da Big Tech está se autodestruindo?, por Palmarí de Lucena
O colapso de quase US$ 600 bilhões no valor de mercado da Nvidia em um único dia acendeu um alerta sobre a sustentabilidade do atual modelo de crescimento das gigantes da tecnologia. É o mote do comentário do escritor Palmarí de Lucena. Segunndo Palmarí, as chamada “Sete Magníficas” – Microsoft, Apple, Amazon, Nvidia, Tesla, Meta e Alphabet – continuam a dominar os mercados, mas sua valorização desproporcional levanta dúvidas sobre a solidez dessa ascensão. Confira íntegra...
O mercado financeiro viveu recentemente um episódio marcante: a Nvidia, uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, perdeu quase US$ 600 bilhões em valor de mercado em apenas um dia. Foi a maior queda já registrada para uma empresa de capital aberto. Como isso foi possível? Alguns apontam para a concorrência chinesa ou mudanças na política comercial, mas há uma explicação mais profunda – e simbólica – para essa turbulência.
O ouroboros, um antigo símbolo presente em várias culturas, representa uma serpente que devora a própria cauda, simbolizando ciclos de renovação e autodestruição. No mundo dos negócios, essa metáfora se encaixa perfeitamente nas grandes empresas de tecnologia, que parecem estar consumindo seus próprios recursos e apostando em um modelo insustentável de crescimento.
Mesmo após a queda da Nvidia, as “Sete Magníficas” (Microsoft, Apple, Amazon, Nvidia, Tesla, Meta e Alphabet) continuam a dominar o mercado financeiro. Juntas, elas representam mais de 30% do valor total do S&P 500, um crescimento expressivo se comparado aos 10% de uma década atrás. Mas essa valorização desproporcional levanta dúvidas: até que ponto esse modelo pode se sustentar?
Muitos acreditam que a inteligência artificial será o motor de crescimento dessas empresas. No entanto, outro fator está em jogo: a percepção de que essas gigantes são investimentos seguros. Em um mundo de instabilidade econômica e política, os investidores veem essas empresas como refúgios confiáveis. Isso levou a uma valorização extraordinária das ações, muitas vezes sem que os lucros acompanhem esse crescimento.
Mas o que essas empresas fazem com tanto capital? Em vez de buscar inovação disruptiva, muitas delas reinvestem enormes quantias em si mesmas e entre si. A Nvidia, por exemplo, obtém quase metade de sua receita de transações com as outras empresas do grupo. O Google paga bilhões à Apple para ser o buscador padrão no Safari. A Meta utiliza serviços da Amazon Web Services para armazenamento em nuvem. Além disso, essas empresas gastaram mais de US$ 600 bilhões em recompras de ações nos últimos três anos – um movimento que, na prática, não impulsiona crescimento real.
Isso cria um alerta: estamos diante de uma bolha que pode estourar a qualquer momento? Se os investidores perceberem que a inteligência artificial não está trazendo retornos revolucionários, como prometido, o que acontecerá com esse ciclo?
Olhando para a história, encontramos paralelos preocupantes. No início do século XX, o setor ferroviário americano passou por um fenômeno parecido. Durante anos, os trilhos foram vistos como o futuro da economia, atraindo investimentos gigantescos. No entanto, quando os limites físicos e estruturais da expansão ferroviária se tornaram evidentes, os lucros caíram e o setor entrou em estagnação.
Será que as Big Techs seguirão o mesmo caminho? Embora a inteligência artificial tenha grande potencial, as promessas de ganhos de produtividade ainda não se concretizaram como esperado. Assim como no mito do ouroboros, essas empresas podem estar consumindo a própria euforia criada ao seu redor.
O capitalismo é um ciclo contínuo de criação e destruição. Mas a grande pergunta é: quando essa serpente perceberá que está devorando sua própria cauda?
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