PENSAMENTO PLURAL A despolitização nacional em curso, por Rui Leitão
“O discurso hipócrita da anticorrupção engana boa parte da população… Faz parte de um trabalho de cooptação ideológica.” Para o escritor e historiador Rui Leitão, há no País um processo de despolitização que interessa a setores retrógados da cena nacional. Por isso, a democracia no Brasil em sua feição libertária estaria em risco com o acirramento da polarização ideológica e o aprofundamento de uma crise de politização da população. Confira íntegra de seu comentário…
Fica cada vez mais evidente que está em curso um processo de desmoralização da política. O poder de pressão da mídia tem contribuído decisivamente para alcance desse objetivo. A consolidação da democracia, a soberania nacional, a luta contra as desigualdades sociais e pelo exercício de uma justiça igualitária e apolítica, já não são temas que despertem mobilizações populares. Tem acontecido exatamente o inverso, parte da população vai às ruas para pedir o fechamento do Congresso e do STF, reivindicando a edição de medidas institucionais, tipo AI5 da época da ditadura.
Percebe-se a intenção em atacar o caráter público da política. Fatos políticos são propositalmente distorcidos de forma a construir realidades que ajudem a promover um desencanto do povo com a classe política. Sentimos a ausência de um jornalismo crítico, ético e de qualidade, capaz de estimular debates plurais e democráticos. A despolitização é apresentada como sendo a saída para as crises que estamos vivendo, muitas delas provocadas exatamente por quem se dedica a esse objetivo.
A democracia em sua dimensão libertária está seriamente ameaçada. Alternativas autoritárias ou totalitárias, corroendo as instituições democráticas. As decisões de ordem pública sendo tratadas como se fossem assuntos privados. Governantes eleitos em processos democráticos entendem que receberam delegação do povo para agir conforme seus exclusivos interesses, desprezando as demandas da sociedade. Outsiders entram no sistema para, no exercício do poder, se afirmarem como promotores de um novo pensamento político que atinge os princípios elementares da democracia, gerando um ambiente de tensões sociais que estimula conflitos inconseqüentes.
Forças predadoras emergem no contexto político atual com o discurso de renovação, aproveitando o ambiente de desalento dos brasileiros diante dos escândalos de corrupção. Ocorre que as práticas são as mesmas, agravadas pelo desprezo aos conceitos da democracia. O modelo econômico, de caráter entreguista, passa a ser controlado pelos mercados, especialmente as bancas internacionais.
O discurso hipócrita da anticorrupção engana boa parte da população. Faz parte de um trabalho de cooptação ideológica. Prevalece a tendência a que a opinião pública aceite e reforce ideias preconcebidas estrategicamente com o intuito de fazer com se perca o real entendimento do fazer política. Predomina a crença no uso da força em prejuízo do diálogo, do debate político sério e responsável. As bolhas ideológicas estão cada vez mais resistentes. Isso se torna ainda mais perigoso quando fica explicito o ódio à inteligência, na recusa ao contraditório.
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