PENSAMENTO PLURAL A falta de decoro, por Juca Pontes
O Blog abre espaço para republicar texto do editor e poeta Juca Pontes, em que faz uma dura reflexão quanto às declarações dadas, em recente reunião do governo federal, pelo ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente), quando diz ser apropriado o momento da pandemia para fazer passar “uma boiada”, no que evidencia uma referência à política de desrespeito às políticas ambientalistas. Confira a íntegra do comentário:
De início, um ministro do meio ambiente, que é sinônimo permanente de agressão à natureza, queria aproveitar a tranquilidade desses dias de pandemia, para tanger toda a boiada, como ele próprio exteriorizou, ao se referir à sua descabida e licenciosa psicose de desmatamento.
Assim, de modo tão sórdido, só se for no quintal da casa dele.
O outro da educação, sem a mínima noção do que seja educação, não se deu por vencido. Proferiu grosserias e preferiu, por meio da sua mal-educada linhagem, ofender a língua pátria e as instituições guardiãs da nossa magna Constituição.
O mesmo, em gesto tresloucado, dias atrás, verberava que o comunismo andava às soltas, a conspirar contra seus desafetos, com a nítida intenção de dominar o mundo. Em que mundo ele vive?
A destemperada senhora dos direitos humanos, nunca soube, ao certo, o que é de direito ao ser humano. Prometeu prender governadores e prefeitos, contrários ao seu desventurado e atabalhoado modo de pensar.
O das relações exteriores, bem de longe, expressa a relação diplomática que deva conceber os laços do Itamaraty. A ele, coube exigir um pedido de desculpa do governo chinês, quando este fora insultado pelo filho 02 do presidente, com insinuações maledicentes sobre a disseminação do novo coronavirus.
O gestor hospitalar, que, tão logo, cederia o lugar para mais um militar investido na patente médica, não sabia o que dizer e nem para onde ir, muito menos como gerir a pasta. Imagine reagir e cuidar da saúde dos brasileiros. Mais parecia um papagaio de pirata.
O, até então, paladino da justiça, verdade seja dita, calado entrou e cabisbaixo, mais ainda, ficou, diante das contumazes e imponderáveis cobranças do bobo-mor da corte, em seus sombrios propósitos de promover o ódio e a injustiça pelos quatro cantos do país.
Já o todo poderoso da economia, sem nenhuma economia, dispara sua desconforme oratória fazendária para tudo que é lado. Prega um modelo de gestão econômica desumano. O que ele mais cobiça na vida é encontrar uma maneira de vender o Brasil aos americanos.
Por sua vez, o presidente da Caixa Econômica economizou nas palavras e foi direto ao assunto. Fez questão de lembrar, aos seus pares, que todo esse desgoverno era culpa da mídia. Inacreditável.
De tudo se viu armar em uma grotesca e inapropriada reunião ministerial, que parecia ser mais um encontro de guerra. De tanto desvario por ela conferido.
Só não se ouviu ninguém dar nenhum pio sobre a voraz e terrível pandemia, grassada pelo surto mortal de covid-19, que, a cada dia, desenha incontido quadro de incerteza e de tristeza na vida de milhares de brasileiros. Nada mais urgente seria, aos presentes, do que tratar com dignidade o isolamento social e sua dimensão.
É, justamente isso, o que os países, no mundo inteiro, estão fazendo.
Quem não mentiu ou quem mentiu, ao jurar falar somente a verdade, isso, agora, pouco importa.
O que mais exemplifica é a lição que fica daquela inusitada reunião: o Brasil não merece tamanho desatino, a enodoar o seu destino ou a macular as páginas de sua grandiosa memória.
Bater palmas para essa insanidade não é pura maldade?
E o que dizer de um presidente indigno e sem virtudes, acostumado a desrespeitar qualquer ser humano, que não comungue com sua infâmia, além de espalhar despropérios e falar palavrão?
Esse é o resultado final de malfadada e desregrada reunião no Planalto Central. Acometida, como de costume, pela triste república de um capitão sem rumo e sem noção, sem voz ou amor no coração.
Inqualificável modelo de exposição nacional, sem precedentes na história recente do país. Para o mundo inteiro ver e ouvir.
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