PENSAMENTO PLURAL A igreja cristã que agrada a Deus, por Rui Leitão
Eu entendo que a Igreja cristã tem que ser inclusiva, na percepção de que existe um mundo real, distante do desejado. Sair do ambiente enclausurado entre quatro paredes. O cristianismo, em razão dos próprios ensinamentos evangélicos, não pode estar desconectado da realidade social. Não esquecendo que a missão de Cristo foi promover o amor ao próximo, a paz e a justiça. Por isso estabelecer condições de abertura do debate fraterno de ideias, sem inibir o pensamento progressista.
O que vemos, lamentavelmente, é que muitos insistem em adotar uma religiosidade de fachada, colocando a falsa moral acima da ética e os dogmas religiosos acima da ciência. Inspirados na lógica da competição, da busca pelo enriquecimento e da conquista de poder, são seguidores de um modelo de igreja político-mercadológico, comprometido com uma agenda fundamentalista.
A igreja cristã deve se afastar das estruturas arcaicas e reacionárias, se dedicando ao exercício da misericórdia e da justiça social. A fé não pode ser instrumentalizada para atendimento de interesses políticos determinados por setores econômicos dominantes e excludentes, que contrariam explicitamente tudo o que Jesus ensinou e deu como exemplo. O cristão progressista valoriza a sociedade civil, sem, necessariamente, cultuar a presença do estado como regulador único do seu funcionamento. Compartilhar o Evangelho que nos foi delegado, considerando o contexto e a realidade do local onde vivemos.
A verdadeira igreja cristã não se harmoniza com mensagens e atitudes opostas à democracia e aos direitos humanos. A essência do evangelho tem que ser respeitada, porém atualizada com o mundo contemporâneo. Alguns radicais conservadores equivocadamente enxergam nisso uma relativização do valor da Bíblia. Condenável mesmo é se apropriar do nome de Deus e dos símbolos religiosos para legitimar um projeto de poder político com índole autoritária. A opressão e a violência com ênfase armamentista nunca serão respostas cristãs. É inadmissível que se dê ao poder político terreno um ar transcendental, como se um líder fosse galgado a posições de comando para cumprimento de uma missão divina. Principalmente quando não se ajusta aos princípios cristãos.
Quando falo de igreja não estou me referindo a templos ou denominações, mas à aplicação dos ensinamentos bíblicos à vida cristã. Usando da mansidão para impedir a violência e o desrespeito, assim como era Jesus. Buscando ser justos para com o outros, como está no livro sagrado: “abençoados são os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão saciados” – Mateus 5:6. Apaziguando situações de conflitos, na promoção de um ambiente fraternal. Essa sim é o que podemos chamar de uma igreja que agrada a Deus. Onde os sentimentos de ódio nunca sejam germinados, a intriga não encontre campo fértil para prosperar, as distinções sociais não prevaleçam e o nome de Deus não seja pronunciado em vão. A política partidária não encontre espaços para sua propaganda nos púlpitos e através de líderes religiosos.
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