PENSAMENTO PLURAL A nova era da desinformação: Trump e a verdade distorcida, por Palmarí de Lucena
Em sua crônica, o escritor Palmarí de Lucena pontua como “Donald Trump segue moldando a realidade com desinformação, distorcendo fatos para sustentar sua narrativa política. De alegações infundadas sobre eleições e imigração a teorias enganosas sobre comércio e política externa, sua retórica populista sobrepõe-se à verdade”. Segundo ainda Palmarí, o impacto de sua influência persiste, desafiando a integridade democrática e lançando incertezas sobre o futuro político dos EUA. Confira íntegra…
No dia de sua posse, Donald Trump fez um discurso inaugural marcado por uma retórica vaga, promessas subjetivas e declarações impossíveis de verificar. No entanto, essa aparente moderação durou pouco. Logo depois, iniciou uma onda de desinformação que se tornaria característica de seu governo. Em discursos improvisados para apoiadores no Capitólio, na Capital One Arena e em interações com jornalistas no Salão Oval, Trump propagou uma série de falsas alegações sobre temas como economia, imigração e o ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021.
Entre suas declarações enganosas, Trump insistiu que os EUA arrecadaram “centenas de bilhões de dólares da China” através das tarifas impostas durante seu primeiro mandato. No entanto, a realidade é que são os importadores americanos que pagam essas tarifas, com os consumidores nos EUA arcando com os custos adicionais. Outra distorção foi afirmar que nenhum presidente anterior havia imposto tarifas sobre produtos chineses, quando, na verdade, os EUA impõem tarifas sobre importações chinesas desde 1789, incluindo medidas adicionais implementadas por Barack Obama. No campo comercial, Trump também mentiu ao dizer que a União Europeia “não aceita quase nada” dos EUA. Dados de 2023 mostram que os EUA exportaram mais de 639 bilhões de dólares em bens e serviços para a UE, incluindo produtos agrícolas e veículos.
Na questão migratória, Trump repetiu a afirmação infundada de que governos estrangeiros estariam “esvaziando” prisões e instituições psiquiátricas para enviar seus ocupantes aos EUA. Especialistas em políticas criminais desmentem essa narrativa, e estatísticas indicam que o número total de prisioneiros no mundo aumentou entre 2021 e 2024. Ele também afirmou que a Venezuela “removeu criminosos das ruas” e os enviou aos EUA, sem qualquer evidência que corrobore essa declaração. Outro exemplo de distorção foi a afirmação de que construiu “571 milhas de muro” na fronteira sul. Documentos oficiais revelam que foram apenas 458 milhas, a maioria substituindo barreiras preexistentes.
Quanto às eleições, Trump manteve a mentira de que a eleição de 2020 foi “totalmente fraudada”. Recontagens, auditorias e investigações independentes confirmaram a legitimidade do pleito. Outra afirmação falsa foi a de que Nancy Pelosi recusou sua oferta de mobilizar 10 mil soldados da Guarda Nacional para proteger o Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Na realidade, a responsabilidade pela Guarda Nacional de Washington D.C. cabe ao presidente, e não há registros dessa oferta. Ele também tentou minimizar o ataque ao Capitólio ao sugerir que os manifestantes eram “agitadores externos”, quando as provas mostram que quase todos os presos eram seus apoiadores declarados.
Na política externa, Trump alegou que a China “controla o Canal do Panamá” e prometeu retomá-lo para os EUA. No entanto, o canal é administrado pelo governo panamenho desde 1999, e, embora empresas chinesas operem portos próximos, a China não tem controle sobre sua administração. Ele também afirmou que impediu a China de comprar petróleo do Irã, mas, apesar de uma breve redução nas importações em 2019, elas nunca cessaram completamente e voltaram a crescer ainda durante sua presidência.
O retorno de Trump à cena política manteve sua estratégia de distorção dos fatos para construir uma narrativa conveniente. Seu discurso político continua sendo pautado pela desinformação, reforçando um cenário onde a verdade é secundária frente à retórica populista. Com o alinhamento de setores econômicos e tecnológicos ao novo governo, resta saber até que ponto essa dinâmica influenciará as políticas futuras.
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