PENSAMENTO PLURAL A nova Talidomida?, por Palmarí de Lucena
O escritor Palmarí de Lucena resgata em sua nova crônica o episódio que ficou conhecido com os “Bebês da Talidomida”, na década de 1960, em relação ao medicamento que chegou a ser liberado pelos governos como sedativo e, depois, constatou-se o seu potencial de causar anomalias congênitas em bebês. Palmarí cita o episódio para fazer uma associação com o uso da hidroxicloroquina, que vem sendo defendida para uso contra a Covid19. Confira a íntegra do comentário:
Lançada na Alemanha em 1957 pela empresa Chemie Gruenenthal, a Talidomida foi comercializada sem receita médica, como um sedativo e hipnótico isento de efeitos adversos e seguro, para combater enjoos matinais em mulheres grávidas. Usada por milhares de mulheres em 46 países, não foi aprovada para o mercado norte-americano devido a questionamentos das autoridades sanitárias dos EUA, sobre a inequidade dos ensaios clínicos realizados pela empresa. Eventualmente o remédio foi removido das prateleiras de farmácias em 1962, após constatação cientifica de 10.000 casos de defeitos congênitos dos chamados de “bebês da talidomida”.
Resistência política a medidas de achatamento da curva de contágio do COVID-19, está provocando uma ressurgência à navegação por águas desconhecidas da ciência. Aventuras guiadas por evidência anedótica e pesquisas superficiais sobre a eficácia de remédios não testados com devido rigor cientifico, aprovados para a prevenção e tratamento da doença. Enquanto níveis de contágio e mortalidade crescem exponencialmente em praticamente todas faixas etárias do País, o presidente brasileiro continua demonizando medidas preventivas com narrativas negacionistas e pseudo-argumentos constitucionais. Nos EUA, narrativas semelhantes têm estimulado a invasão de espaços públicos por grupos extremistas armados e a abertura ilegal de negócios considerados não essenciais por autoridade locais.
Resultados do maior estudo já feito sobre tratamentos com cloroquina e sua derivada hidroxicloroquina, revelaram após análise de mais de 96.000 pacientes em 671 hospitais do mundo afora, que os medicamentos não aparentam fornecer nenhum benefício a pessoas suspeitas de contágio ou internadas com COVID-19, pelo contrário, aumentam o risco de arritmias e de óbito. Apesar da evidência científica robusta, ambos continuam sendo promovidos por Donald Trump e espelhado obsequiosamente pelo Presidente Bolsonaro, em desafio direto a achados científicos e recomendações da própria OMS.
A experiência da Talidomida parece estar se repetindo, apesar de evidência cientifica esmagadora sobre os efeitos adversos dos antimalariaís e possível acirramento de tensões intercomunais causadas pela falta de lógica, nutrida pela politização da pandemia. Narrativas no vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril, não substanciam a existência de uma pauta cientifica sobre a prevenção, testagem ou reabilitação de populações afetadas pela pandemia, postura amplamente demonstrada na mudança do foco do Ministério da Saúde para um serviço de Intendência Militar.
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