PENSAMENTO PLURAL A omissão na política, por Rui Leitão
A participação política é uma obrigação cidadã. Recusá-la é, no mínimo, uma postura irresponsável. Paulo Freire já nos ensinava que: “Todos nós temos atos políticos, só que uns são mais preocupados com o bem-estar da sociedade e outros mais preocupados em levar o indivíduo ao seu ápice de realizações dos seus desejos; respectivamente uma mais inclusiva e outra mais excludente”.
Temos visto muita gente falar que detesta política e que prefere não debater qualquer assunto que trate desse tema. São os que se afirmam “isentos”. Na verdade, são omissos. E omissão é sinônimo de covardia, passividade, comodismo. Decidem ficar “em cima do muro”, como se diz na linguagem popular. Neles está ausente o espírito público, porque só pensam em si próprios.
Platão afirmava que: “o castigo dos bons que não fazem política, é serem governados pelos maus”. É exatamente por isso que o maior medo de um governo mal intencionado é o povo consciente”. Teme os que tenham senso crítico e se posicionem politicamente, vendo nesse comportamento uma ameaça ao sistema vigente. Quanto maior for o número de pessoas omissas, com o discurso de que estão descrentes com a política, mais favorecida fica a escassez dos valores éticos e princípios morais. Os corruptos se beneficiam dessa ausência de participação cidadã dos autoproclamados “apolíticos”.
Fazer política não é, necessariamente, vincular-se a um partido ou defender uma ideologia. É preciso entender que a política faz parte da nossa vida. É a forma de participação na sociedade a qual estamos inseridos. O problema é que muitos insistem na compreensão de que a política está vinculada, exclusivamente, a processos eleitorais. Esquecem que através dela é que se definem ações efetivas de desenvolvimento da população. Quando nos relacionamos com o mundo estamos “fazendo política”. É a melhor maneira de exercer a cidadania.
Tenho dificuldades em conviver com os que carregam a máscara da isenção política. Vejo neles o obstáculo para a condução da nossa própria existência coletiva. Me desculpem a franqueza, mas me parece algo que cheira à hipocrisia. A omissão é também ignorância. Pratica-se a negligência quando alguém, tendo a consciência de que pode fazer algo pelo outro, não o faz. Assim se comporta o omisso político. Já estamos pagando um preço caro pela omissão de muitos que proclamam o discurso simplista de que “odeia a política”. Através dela se enraízam as injustiças sociais, colaborando com tudo aquilo que se imagina estar combatendo. Corrupção, por exemplo. Nossa sociedade não aguenta mais tanta omissão. A opção pelo silêncio ao invés do grito desgasta a esperança.
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