PENSAMENTO PLURAL A pandemia avassaladora, as dolorosas perdas e o sacerdócio, por Raoni Vita
Nesta semana, peço licença, não há clima para outro tema senão a dor das despedidas dos amigos que não resistiram à Cvid-19. Exatamente hoje, 12 de março, completa-se um ano da primeira morte no Brasil decorrente dessa pandemia que surpreendentemente agora começa a entrar na sua etapa mais aguda.
Os últimos 7 dias foram incrivelmente tristes. Atingimos níveis tão altos que nos ensinaram não serem meros números, tirando-nos da dormência com um choque de realidade. Vários amigos da advocacia que nos ombreavam diariamente foram alvejados nesta guerra e deixaram cicatrizes indeléveis no nosso coração e nas suas famílias despedaçadas abruptamente.
Enquanto os níveis de poder batem cabeça tentando achar a melhor fórmula, resta ao povo orar pela chegada urgente de vacinas e que estas sejam a solução definitiva para este caos.
A advocacia, é preciso dizer, não pôde parar um só dia de se arriscar, pois este sacerdócio sempre é chamado a socorrer pessoas com fome, outras enfermas, algumas privadas de sua liberdade ilegalmente, e ela quase sempre é a única tábua de salvação para que estas tentem receber o mínimo de dignidade que nossa Carta Cidadã lhes garante como seres humanos.
Não há feriado, final de semana ou lockdown quando essas garantias urgentes exigem reparação. E esse desprendimento pelo próximo certamente foi o que levou muitos desses amigos à exposição ao front da batalha.
Desse modo, deixo hoje o meu agradecimento pela amizade, mas sobretudo pela abnegação dos colegas que partiram deste plano, os quais agora, juntos, onde estiverem, sei que defenderão de lá a causa coletiva de todos nós contra este mal, para que voltemos a ter paz, saúde e esperança, a fim de que a vida volte a ser leve e possamos nos abraçar novamente.
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