PENSAMENTO PLURAL A relevância dos Países Bálticos para o Brasil, por Palmarí de Lucena

Em seu comentário, o escritor Palmarí de Lucena observa como os países bálticos — Estônia, Letônia e Lituânia —, embora pequenos em população e território, têm grande relevância para o Brasil. São portas de entrada para o mercado europeu, modelos em inovação digital, exemplos de alternância de poder e de superação da polarização política. Sua resiliência geopolítica e suas tradições culturais mostram que até nações menores podem inspirar cooperação em democracia, comércio, tecnologia e cultura. Confira íntegra…

À primeira vista, Estônia, Letônia e Lituânia podem parecer distantes demais do Brasil, tanto em geografia quanto em escala econômica. Juntos, somam menos habitantes do que o estado do Rio de Janeiro. Ainda assim, a relevância dos países bálticos para o Brasil não se mede apenas por números ou quilometragens, mas pela forma como se inserem no mundo contemporâneo.

No plano econômico, o fato de serem membros da União Europeia e da zona do euro confere aos bálticos uma posição estratégica: são portas de entrada para o mercado comum europeu, regulado por padrões de qualidade exigentes, mas também aberto a oportunidades para exportadores brasileiros, sobretudo nas áreas de alimentos, commodities e energia renovável. Seus portos no Mar Báltico funcionam como corredores logísticos para toda a região, o que amplia a importância de manter canais de comércio com essas nações.

No campo da inovação, a Estônia tornou-se um símbolo global de governo digital. O país transformou a burocracia em eficiência, criando um sistema em que quase todos os serviços públicos estão online. Essa experiência é observada com atenção em diversas partes do mundo e poderia servir de inspiração para o Brasil em sua busca por modernização administrativa e inclusão digital.

A relevância dos Bálticos também se estende ao terreno democrático. Depois de meio século de ocupação soviética, esses povos reconstruíram suas instituições a partir da independência nos anos 1990, adotando Constituições modernas, promovendo eleições livres e cultivando uma cultura de respeito à alternância de poder. Governos conservadores e progressistas já se sucederam em Tallinn, Riga e Vilnius sem rupturas ou questionamentos à legitimidade do processo eleitoral.

Além disso, essas sociedades souberam evitar a armadilha da polarização tóxica. Apesar de existirem partidos à direita e à esquerda, o debate político costuma ser mediado pela busca de consensos mínimos em torno de temas centrais, como segurança, integração europeia e modernização tecnológica. A competição eleitoral não se converteu em guerra ideológica permanente. O adversário é visto como um opositor legítimo, não como inimigo a ser eliminado. Essa prática, fruto de uma memória coletiva marcada pela ocupação estrangeira e pelo desejo de não retroceder em conquistas democráticas, é um ensinamento valioso para o Brasil, que ainda enfrenta dificuldades em transformar diversidade de opiniões em diálogo construtivo.

Do ponto de vista geopolítico, os países bálticos ocupam uma posição delicada e estratégica: fronteira direta com a Rússia e membros ativos da OTAN. Sua resiliência diante de pressões externas mostra como pequenos Estados podem se firmar como atores relevantes em blocos multilaterais. Essa postura dialoga com a própria diplomacia brasileira, que valoriza a defesa da soberania e a construção de alianças regionais.

Por fim, há a dimensão cultural. A tradição dos festivais de canto, reconhecida pela UNESCO, reforça a ideia de que a identidade nacional pode ser preservada e projetada por meio da arte e da memória coletiva. Para o Brasil, que também se expressa em música, literatura e dança como pilares de unidade, esse exemplo aproxima continentes distintos pela força da cultura.

Assim, a relevância dos países bálticos para o Brasil ultrapassa a escala do comércio e da política: está na possibilidade de construir pontes de cooperação em tecnologia, cultura, democracia e desenvolvimento sustentável, em uma era em que até os menores países podem irradiar lições para o mundo.

 

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