
Em sua crônica, o escritor G. G. Carsan trata de um conflito ocorrido em Santa Inês, conhecido como a Guerra do Seró, marcada, segundo o autor, por “muitos confrontos, emboscadas, perseguições, tiros e feridos”. E critica a falta de diáolgo da atual administração no Município, que pode resultar numa segunda guerra: “É lamentável que o poderoso poder público não saiba articular uma política pública consensual, honesta e duradoura, para desenvolver o turismo em seu território, preferindo o confronto, a guerra.” diz. Confira íntegra…
O município de Dona Inês acomoda, de forma honrosa, por ainda existir, a Leste da Sede, a Reserva Florestal Mata do Seró, entre a cidade e o Rio Curimataú. No entorno da Mata, estão os moradores da Fazenda Sítio, que engloba porções dos sítios Caco, Canafístula, Pimenta, Seró e Beira do Rio.
Toda aquela propriedade era um Latifúndio, que se tornou um Assentamento, no episódio que podemos denominar de A Primeira Guerra do Seró, apenas a título de ilustração, para os leitores de longe. Sim, porque naqueles dias dos anos 70 e 80, século passado, houve muita zoada, confrontos, emboscadas, perseguições, tiros e feridos.
A dita Guerra, travada pelos moradores, apoiados pela Igreja Católica e Sindicato dos Trabalhadores Rurais, contra o proprietário Joaquim Cabral de Melo, ocupou as páginas do Jornal O Norte e do Correio da Paraíba, diversas vezes. E foi tratada no livro Dona Inês – Seu Povo, Sua História, 2015, do escritor G. G. Carsan.
Naquela feita, os moradores ganharam a causa, a propriedade foi desapropriada e dividida entre eles, que vivem agrupados na Associação dos Moradores da Fazenda Sítio.
Duas décadas depois, a partir de 2005, foi aberta uma clareira para apoiar os caminhantes e lá por 2010 teve início um movimento de trilhas, apoiado por um morador local, que criou algumas, a golpes de facão, reabrindo antigos caminhos, e apresentando locais icônicos, como a Furna da Onça, o Poço do Simão, O Castelo da Princesa Antônia.
Surgiu depois, a ideia de se criar um polo turístico, na área da Reserva, com um Portal de Entrada e ponto de venda de artesanato, comidas típicas, etc, tudo gerenciado e executado pelos Associados – que não saiu do papel e das ideias.
Chegamos a 2024, o quinto mandato do Prefeito lá de 2010., que agora está empossado, e planejou, junto a um Padre e a um Empresário local, tomar posse da Reserva Florestal, para implantar um projeto turístico no local. Algo louvável, não?
Só esqueceram de incluir e associar com os Moradores e Donos do local. Iniciava-se aí, a Segunda Guerra do Seró.
Depois da tentativa de posse realizada pelo Prefeito, Padre e Empresário, foram abertas as hostilidades e reuniões Prefeito, Associação e Incra.
O principal resultado foi o fechamento de uma entrada da Mata, na parte Sul, próximo ao sítio Soró. Isto teve grande repercussão. Mostrou a derrota do diálogo para o orgulho e força, das partes.
O fechamento de uma entrada não obteve efeito, pois havia outras duas entradas na lateral Norte, usadas constantemente por transeuntes e turistas, principalmente quem ia da cidade para o Bar do Betinho, situado na margem Norte, da Mata. O seu fechamento tomou uma proporção muito grande, aumentando a escalada do conflito.
Os protestos e pedidos de ajuda ao poder público, feitos pelo proprietário do bar, trouxeram o Prefeito para dentro da nova situação, causando diversos movimentos.
O poder público exigiu a abertura imediata da via que corta a Mata, em sua parte mais fechada. A Associação não acatou a ordem.
Teve início o embate. O prefeito passou a usar o seu programa de rádio para acusar a Associação de desordem. A Associação emitiu notas e ofícios, avisando que o Seró pertence aos associados, pois foi dividido e titulado pelo INCRA, para todos que compõem o Assentamento.
O Prefeito fez enquete para averiguar se o povo do município estava a favor ou contra o fechamento. Os associados acusam que isso foi uma jogada para colocar o povo contra eles. E foi mesmo.
E finalmente, o Prefeito avisou que cortaria todos os benefícios públicos aos moradores daquela região, ou seja, todos logradouros citados acima. Isso inclui transporte escolar, manutenção de estradas e barreiros, acesso aos serviços de saúde.
Parece esquecer que estes serviços são essenciais, constitucionais, e não poderiam entrar nessa briga. Mas guerra é guerra e o Prefeito não brinca e já deixou claro que não vai desistir.
A Associação se acosta ao Incra, Ibama, leis do Assentamento Fazenda Sítio, para que as suas prerrogativas sejam mantidas.
E se apoia na sua capacidade de lutar por seus objetivos, amparada na vitória anterior, quando conquistou o direito à terra.
A Associação precisa manter a coesão, unir-se na forma de corrente inquebrantável, na luta por seus direitos, se quiser fazer frente ao poderoso Prefeito.
É lamentável que o poderoso poder público não saiba articular uma política pública consensual, honesta e duradoura, para desenvolver o turismo em seu território, preferindo o confronto, a guerra, apenasmente para demonstrar força, mostrar quem manda.
A solução e o fim da guerra virão quando as partes sentarem e definirem novos rumos. O turismo pode ser implantado no Seró, com participação efetiva dos Associados, nos fazeres e nos lucros, gerando desenvolvimento e renda para todos. Ou deixem tudo como está.
Ânimos exaltados e impropérios de parte a parte. Um conflito que gera discussão e tira o sossego das partes. Dar-se lugar a pensar a guerra, quando o certo seria realizar soluções para os problemas já existentes.
Até quando? Quem vence essa Segunda Guerra do Seró?
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