PENSAMENTO PLURAL A verdade nos libertará, por Palmarí de Lucena
Em sua nova crônica, o escritor Palmarí de Lucena postula como “chegou a hora de enfatizar a verdade como algo central para a convivência pacífica e sustentabilidade do Estado democrático, Depois de anos nos defendendo de fake news e desinformação, devemos retornar a valores epistêmicos e à reconstrução de uma sociedade justa e verdadeira”. Confira a íntegra de seu comentário…
Verdade é uma promessa muito sedutora, o versículo mais citado nas postagens religiosas e literatura, por exemplo, é João 14:6, quando Jesus proclama “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”, ecoa no pensamento das pessoas porque entendem que verdade não é meramente uma propriedade abstrata de proposições, porém algo essencial para vivermos bem. Se sua vida foi construída em nada mais do que mentiras, é como se ela não fosse real. Acredite ou não, Jesus mostra o caminho na promessa de João: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”, soa verdadeira.
Ao longo dos tempos, verdade deixou de ser plena e simples. Hoje não é incomum ouvir pessoas afirmando que tal coisa não existe como verdade, só opiniões diferentes, ou seja, o que é verdade para uns versus o que é verdade para outros. Fenômeno presente praticamente em todas discursões políticas ou debates, quando uma parte opta por não aceitar argumentos contrários, simplesmente invocando “diferença de opinião”, para evadir-se de um diálogo inconfortável ou o contraditório.
O problema não é que carecemos de um entendimento sobre o que “verdade” significa. Se existe uma crise de verdade no mundo, a causa não é devido a inadequação de teorias filosóficas. Pode-se também argumentar que na sua perseguição obstinada da verdade, a filosofia liberou correntes de ceticismo que subestimaram a própria verdade. Como você sabe? O que você quer dizer com isso?… são perguntas de filósofos, que têm sido degradadas por uma sociedade propensa ao cinismo.
Sustentando um mundo exausto pelo cinismo é um espécie de derrotismo, aceitação de que não temos recursos de estabelecer a diferença de quem está dizendo ou fazendo de conta do que é verdade. Sentindo-se incompetentes de discernir entre verdade e falsidade, eleitores escolhem seus candidatos baseados em outros fatores, principalmente os emocionais. Perdemos confiança nos nosso cérebros, exercemos opções com coragem e coração, sem considerar verdade como um aspecto decisório.
Verdades podem ser difíceis de entender, descobrir, explicar ou verificar, mas também fáceis de esconder, distorcer, abusar ou torcer. Frequentemente, não podemos afirmar com certeza o que é verdade. Alguns sugerem que precisamos de métodos de investigação ou um conjunto de regras para estabelecer verdade. Porém nossa história sugere que mais importante do que eles é algo mais relevante a “atitude”. Estabelecer verdade requer valores epistêmicos como modéstia, ceticismo, abertura para outras perspectivas, espírito de consciência coletiva, desejo de encontrar verdade e disposição de deixar nossos princípios morais serem guiada por fatos.
Defesa da verdade implica frequentemente em batalhas para defender algumas que nos dividem, podem ser necessárias, mas provocam antagonismos. A grande e agregadora batalha, é defender valores que compartilhamos sobre verdade, as virtudes que nos levam a ela e os princípios que nos ajudam a identificá-la. Verdade não é uma abstração filosófica, é algo central de como vivemos ou como fazemos sentido de nós mesmos, do mundo e de cada um de nós. Este é o grande desafio!
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