O escritor Palmarí de Lucena relata, em seu comentário, que a postagem original deste texto foi removida do blog “Palmarí na Estrada”, sem seu conhecimento ou autorização, por pessoas não identificadas. O autor manifesta repúdio a qualquer forma de censura, manipulação ou uso indevido de conteúdo autoral, reafirmando seu compromisso com a liberdade de expressão, a verdade dos fatos e o respeito à criação intelectual, princípios que orientam seu trabalho literário e jornalístico. “Ironicamente, os que possivelmente objetaram ao texto são os mesmos que percorrem os Estados Unidos denunciando a falta de liberdade de expressão no Brasil”, afirmou. Confira íntegra...
Ah, o inglês de Eduardo Bolsonaro… Um espetáculo linguístico digno de matinê no Teatro do Absurdo, com tradução simultânea em sofrimento e aplausos do além. O rapaz entra em cena como quem vai salvar o Ocidente — terno alinhado, olhar de estadista e sotaque de quem fez Harvard… pelo YouTube.
“We… we must fight… the cultural… the cultural Marxism… that is destroying the Western values.”
O entrevistador da Fox inclina a cabeça, talvez achando que caiu numa sessão espírita: as frases vêm e vão, reencarnam no meio da oração, tropeçam no verbo e escorregam na preposição. É o stand-up involuntário da gramática patriótica.
Eduardo fala inglês como quem carrega um piano nas costas: pesado, suado e em tom de cruzada. A cada “the” extra, um professor de Oxford desmaia; a cada pausa dramática, um tradutor simultâneo renuncia e pede asilo linguístico.
Mas, justiça seja feita, o moço tenta. A fé é tanta que transforma o idioma num campo de batalha: luta contra o “cultural Marxism”, contra as conjugações e, quando dá tempo, contra o próprio dicionário. O inglês dele é patriótico — defende valores e destrói frases.
Enquanto isso, no camarote celestial das gafes, Joel Santana observa, café na mão e risada pronta:
— “Tá de brincation, uite me! Esse menino quer me destronar!”
Joel, o inventor do “inglês de arquibancada”, falava com o coração e improvisava com o corpo. Transformou o erro em arte e a vergonha em patrocínio. Já Eduardo fala com o fígado e o manual do Partido Republicano na outra mão. O resultado é uma língua híbrida: o Bolsonenglish, meio Trump Tower, meio Barra da Tijuca.
A entrevista, claro, termina em pelada linguística. Eduardo dribla a gramática, chuta a sintaxe, tropeça na fonética e comemora como quem marcou um golaço. No replay, percebe-se: a bola nem entrou, mas a autoconfiança foi de artilheiro.
Eis a diferença: Joel fazia rir sem querer; Eduardo faz querer rir. Um falava errado com graça, o outro fala certo com desespero. Um virou meme por humanidade, o outro, por insistência.
Ao fim, Eduardo sai suado e vitorioso, enquanto a língua inglesa é levada de maca para a UTI do Oxford Dictionary. O repórter agradece — não se sabe se por cortesia ou alívio.
E o Brasil, esse eterno aluno da escola pública global, aprende mais uma lição: falar inglês não é problema; o problema é acreditar que sotaque de Texas de Taubaté basta pra dar aula de civilização ocidental.
Porque, no fim, o Bolsonenglish prova uma verdade universal: o ridículo, meus caros, é fluentemente bilíngue.
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