Em seu comentário, o escritor Palmarí de Lucena destaca como as negociações entre Brasil e Estados Unidos vão além de tarifas: testam a maturidade institucional e a capacidade do país de projetar estabilidade em um cenário global incerto. A harmonia entre Executivo, Legislativo e Judiciário é essencial para garantir credibilidade e força diplomática. “Soberania econômica requer segurança jurídica e coesão política — porque um país dividido negocia de joelhos, mas um país unido fala de pé”, pontua. Confira íntegra…
As negociações entre Brasil e Estados Unidos, mais do que um debate sobre tarifas, representam um teste de maturidade institucional. O que se discute, no fundo, é a capacidade de o Brasil projetar estabilidade política e coerência estratégica em um cenário internacional cada vez mais volátil. Nenhum acordo comercial é sólido se o país que o assina estiver dividido internamente.
De um lado, Washington busca parceiros que ofereçam segurança em áreas sensíveis — energia, minerais críticos e cadeias logísticas confiáveis — em meio à crescente disputa com a China pelo domínio de recursos e tecnologias. De outro, o Brasil tenta transformar sua posição geopolítica e suas reservas de nióbio, terras-raras e lítio em vantagem diplomática, preservando autonomia e soberania sobre seu território e suas políticas industriais. Trata-se de uma relação que exige equilíbrio, prudência e clareza de propósitos.
Além das tarifas punitivas e dos acordos setoriais, temas como bitributação, transferência tecnológica e padrões ambientais devem marcar o diálogo bilateral. Enquanto os Estados Unidos desejam regras rígidas de transparência e proteção de propriedade intelectual, o Brasil busca cláusulas de revisão periódica e mecanismos que impeçam a imposição de condicionantes políticas disfarçadas de exigências ecológicas. É nesse terreno que se mede a firmeza de uma diplomacia madura — a que defende o interesse nacional sem se isolar do mundo.
Nesse contexto, a harmonia entre os Poderes torna-se um ativo diplomático. A credibilidade externa de um país nasce da sua estabilidade interna. Divergências entre Executivo, Legislativo e Judiciário são naturais, mas quando se convertem em confronto, comprometem a autoridade do Estado e a confiança dos parceiros. A recente retórica sobre “aplicação da lei contra ministros do Supremo Tribunal Federal”, por exemplo, desperta atenção no exterior: não por zelo ideológico, mas porque ameaça a previsibilidade institucional — fundamento essencial para qualquer relação econômica duradoura.
A independência do Judiciário deve ser preservada como pilar da democracia, assim como o respeito mútuo entre os Poderes. Não há soberania econômica sem segurança jurídica, nem autonomia diplomática sem estabilidade política. Quando um país questiona o próprio equilíbrio institucional, perde força na mesa de negociações e se torna vulnerável às pressões externas.
O momento exige serenidade, diálogo e coesão. As diferenças partidárias e ideológicas devem ceder espaço à construção de uma política externa de Estado, guiada pelo interesse nacional e pela continuidade institucional. Só assim o Brasil poderá sentar-se à mesa com os Estados Unidos — e com o mundo — como parceiro confiável, consciente de sua força e fiel aos valores republicanos que o sustentam.
Em tempos de disputas geopolíticas intensas, a lição é simples: um país dividido negocia de joelhos; um país unido fala de pé.
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