Em mais uma de suas cartas apócrifas, o escritor Palmarí de Lucena trata de um tema muito sensível nos tempos atuais, os patriotas. No texto, é como de Cassilda escrevesse aos patriotas. “Mas ao contrário da trágica princesa de Carcosa, cuja maldição era o esquecimento, esses novos mensageiros do caos anseiam por memória”, diz Palmarí. Confira íntegra…
(variação contemporânea da maldição de Cassilda)O nome de Cassilda, sussurrado por poetas suicidas e dramaturgos insanos, revive agora naqueles que se comprazem em anunciar a queda, o colapso, o castigo. Mas ao contrário da trágica princesa de Carcosa, cuja maldição era o esquecimento, esses novos mensageiros do caos anseiam por memória — por cliques, curtidas, compartilhamentos. Vendem como oráculos o que não passa de espuma e ruído.
Dizem que o Brasil foi banido.
Que o mundo nos virou o rosto.
Que a economia ruiu na madrugada.
Que sanções choveram como enxofre.
Dizem — mas não sabem.
Ou sabem, e mentem, porque o prazer do alarme é mais doce do que o sabor sereno da verdade.
E como Cassilda, eles cantam. Mas seu canto é falso, afinado por algoritmos e pavores.
A diferença? Cassilda delirava num teatro de máscaras que nunca caíam. Eles, os “patriotas”, fingem não usar máscara alguma — e mentem até sobre o próprio rosto.
Espalhar boas novas, exaltar conquistas, reconhecer avanços — ah, que enfado!
Eles preferem o gozo perverso da desgraça.
Preferem anunciar um desastre que não aconteceu a celebrar uma ponte erguida, uma floresta protegida, uma criança vacinada.
E assim falam os “patriotas”:
— Se é mentira, é melhor ainda — desde que machuque quem governa, desde que manche o espelho do país.
Na ruína digital dos fóruns, dos grupos, das bolhas, também há um mármore rachado.
E nele se lê:
“Aqui, as máscaras são tatuadas no rosto.
Cassilda canta. Mas hoje quem ouve… compartilha.”
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