Da série mais uma carta apócrifa do escritor Palmarí de Lucena, Charles Chaplin envia um abraço de ternura e resistência aos artistas do Brasil. Entre escombros e risos, exorta: façam da arte um poço de verdade e humanidade. Persistam sem aplausos, emocionem sem medo e ensinem com empatia. No palco improvisado da vida, a grandeza está em tocar corações — mesmo com sapatos gastos e alma luminosa. Confira íntegra…
Meus caros artistas do Brasil,
Escrevo-lhes não com a solenidade dos discursos formais, mas com a ternura de um vagabundo que, entre lágrimas e sorrisos, aprendeu que a arte é a última trincheira da humanidade. Se hoje lhes dirijo estas palavras, é porque reconheço em suas vozes, pincéis, corpos e câmeras uma centelha que ainda resiste ao cinismo dos tempos.
“Num mundo que se faz deserto, temos sede de encontrar um poço.” Disse isso de outra forma, é verdade, mas creio que entenderão: o artista é esse poço — profundo, generoso, às vezes silencioso, mas sempre capaz de oferecer algo puro quando tudo ao redor se turva.
Lembrem-se: “Rir é o remédio, chorar é o alívio, sorrir é o equilíbrio.” A missão de vocês não é apenas entreter, mas tocar o que há de mais escondido no peito do outro. Não se envergonhem da lágrima nem se acanhem com o riso — ambos nascem do mesmo ventre: o da verdade.
O Brasil, esse país que canta antes de falar e dança antes de andar, precisa de vocês mais do que nunca. Quando tudo parecer ruir, façam como eu: transformem os escombros em cenários. “A vida é uma peça que não permite ensaios”, e cabe a vocês, nesse palco improvisado, darem forma ao inominável.
Não esperem aplausos imediatos nem reconhecimento justo. O artista, muitas vezes, é amado apenas após a última cortina. Mas mesmo assim, caminhem. Mesmo sem sapatos. Mesmo sem trilha sonora. “A persistência é o caminho do êxito”, e não há fracasso para quem ousou ser sincero.
Se puderem, ensinem às novas gerações que o talento sem empatia é vaidade, e que a genialidade sem humildade é ruído. Ensinem que “a simplicidade pode ser mais sofisticada do que qualquer artifício”, e que o silêncio pode ser mais eloquente do que mil discursos.
Por fim, meus queridos, não percam o dom mais raro de todos: o de manter-se humanos. No circo de vaidades do mundo, sejam como aquele palhaço que sorri por fora e sente por dentro — pois é assim que nasce a arte verdadeira.
Com afeto e reverência,
Charles Chaplin
(do alto de seu chapéu-coco e sob a luz tênue de um refletor que nunca se apaga)
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