Uma das polêmicas que vêm agitando as redes sociais, nos últimos dias, trata da recente condenação do humorista Leo Lins, a pena de oito anos de prisão, pela juíza Barbara de Lima Iseppi (3ª Vara Criminal Federal de São Paulo). O caso despertou a atenção do escritor Chico Viana, que postou um consistente comentário, que argumenta como “é preferível a graça do humor, mesmo ferino, à desgraça de não se poder expor ou mesmo rir do que é ridículo, abusivo ou molesto”. Confira íntegra…
“Ridendo castigat mores” (Rindo se corrigem os costumes) é uma conhecida frase latina que destaca o poder do riso para criticar os vícios e as mazelas da sociedade.
No Brasil, tende-se a inverter essa clássica verdade e mostrar que, pelo contrário, quem faz rir deve ser castigado.
A exagerada e descabida sentença proferida contra o humoristas Léo Lins mostra que, entre nós, o politicamente correto chegou às raias do absurdo.
Uma coisa é querer salvaguardar o respeito e o decoro, que devem pautar as relações em sociedade. Outra é tentar reprimir o que está no inconsciente coletivo e pode, por meio das manifestações artísticas, se expressar sem dano ou prejuízo a ninguém.
A arte é celebração mesmo do horrível; ao promover a expressão de tendências inconfessas, ela impede que essas tendências se concretizem em ameaças e agressões ao corpo social.
Preconceito contra gordos, racismo ou pedofilia existem encobertos e são eventualmente confirmados por reportagens de TVs e jornais. A referência a eles num programa de humor não vai estimular ninguém a praticá-los; pelo contrário, ao quebrar o pacto de silêncio, funciona também como denúncia e constitui um alerta para os pais e educadores.
É preferível a graça do humor, mesmo ferino, à desgraça de não se poder expor ou mesmo rir do que é ridículo, abusivo ou molesto. Num dos textos que contestam o humorista, li que o que ele faz é fascismo. Total engano; o fascismo é avesso a anedotas.
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