PENSAMENTO PLURAL Castro Pinto, por Gonzaga Rodrigues
Brilhante texto do escritor Gonzaga Rodrigues aborda, diretamente, iniciativa anunciado pelo senador Veneziano Vital do Rego e o deputado Trócolli Júnior, para mudar o nome do aeroporto Castro Pinto e homenagear o senador José Maranhão, em seu lugar. Apesar de considerar justa qualquer homenagem a Maranhão, Gonzaga contesta que seja alterando o nome do aeroporto. O comentário foi publicado na edição desta quarta (dia 11), no jornal A União e você pode conferir a íntegra do texto…
Soube que voltam a cogitar da mudança de nome do nosso aeroporto. Desta vez para, em lugar de Castro Pinto, o nome do meu biografado José Maranhão.
O exemplo de Castro Pinto, a razão de manter seu nome vivo, valia, avultava inquestionável nas três primeiras décadas do século passado. Ele foi do tempo em que o discurso era a arma superior e a razão, maior do êxito político. Acrescentando-se a esse domo exemplo moral e a lição de democracia.
Dos nossos vultos maiores, os chamados pró-homens da veneração histórica, Castro Pinto situa-se entre Epitácio na política e Carlos Dias Fernandes na cultura. No belo ensaio que Celso Mariz lhe dedica, em Cidades e Homens, ele chega a ser acusado de dispersão dos seus dons e valores culturais por não deixar obra escrita. Toda a sua obra restou impressa, mais que na memória, na devoção virtuosa dos que faziam o seu público. Isso no Pará, na Câmara Federal, no Senado, tanto quanto na Paraíba. Assis Chateaubriand, mesmo devendo favor a Epitácio, que foi seu advogado pela posse de O Jornal, questionado por herdeiros do fundador, mesmo assim não negou ao contemporâneo de Epitácio o exemplo maior, para o Brasil, do democrata perfeito. Diz lá ele que a Paraíba, nas mãos de Castro Pinto, mostrou ao país de Ruy Barbosa o exemplo perfeito da prática democrática, caracterizada pelo respeito ao povo, aos seus direitos e aos opositores do seu governo.
Deixando de lado o testemunho conterrâneo dos Chateaubriand, Celso Mariz, Coriolano, Horácio, reafirmados pela geração de José Octávio e Humberto Melo, vejamos o registro insuspeito de Liberato Bittencourt em seu Brasileiros Ilustres: “João Pereira de Castro Pinto – Político de grande influência e de extraordinário valimento. (…) Eleito deputado, brilhou na câmara baixa (a federal), discutindo, superiormente (…) e entrou glorioso no Senado. Eleito governador no período 1912 a 1916, tomou posse do alto cargo onde, com unânimes aplausos do Brasil em peso, começou a praticar a verdadeira doutrina republicana, libertando a justiça das peias partidárias e respeitando escrupulosamente a soberania popular. Na ocasião em que se escrevem estas linhas, fins de 1913, é sem questão um dos mais nobres representantes do Executivo estadual em terra brasileira”.
Setenta anos depois desse depoimento, é a Castro Pinto que Oswaldo Trigueiro de Albuquerque Mello, ex-governador do mesmo padrão moral e intelectual, dedica as melhores páginas de seu livro A Paraíba na primeira
República: “De Castro Pinto pode-se dizer, com segurança, que se elegeu – para a Assembleia, para a Câmara, para o Senado e para a Presidência do Estado – exclusivamente por seu prestígio intelectual e moral”. E conclui: “Não tinha ele temperamento político. Espírito delicado e sensível, muito sofreu com as dificuldades naturais de todo governo, agravadas, no caso do seu, pela qualidade de presidente de conciliação, obrigado a contentar gregos e troianos, coisa tão difícil quanto a quadratura do círculo. (…) Desde o início, falava em renunciar, o que acabou fazendo antes de completar o terceiro ano de mandato.”
Há muito mais a transcrever de Oswaldo, de Celso Mariz, de Coriolano, das revistas e almanaques do IHGP e do acervo dos que ocuparam a sua cadeira na Academia de Letras. Sem dúvida nenhuma José Maranhão está entre os brasileiros que honraram o cargo e o que mais demorou nele por confiança popular demonstrada em sua consagração para o Senado. Por isso mesmo, dificilmente consentiria em se usurpar a homenagem de todos os tempos a Castro Pinto.
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