PENSAMENTO PLURAL Como identificar o estadista, por Rui Leitão
Nem todo chefe de estado pode ser considerado um estadista. O governante medíocre age pensando nas próximas eleições. O estadista estabelece sua forma de governar visando as futuras gerações. Um se preocupa com os resultados imediatos, o outro se interessa em definir ações administrativas que produzam efeitos também a médio e longo prazo.
O estadista demonstra capacidade de liderar em momentos de tensão, conseguindo raciocinar além do imediatismo político. O populista que assume a condição de governante dissemina problemas, ao invés de procurar resolvê-los, apelando para o discurso da polarização que só fomenta crises, mostrando claramente que não tem visão ampla, justa e urgente do que seja Estado.
Garantir a unidade do país é missão imprescindível de quem governa como estadista. Ele se desprende da visão oportunista e de curto alcance que enxerga a política simplesmente como conquista de poder. Procura conduzir a política nacional orientada pelos interesses permanentes do Estado, tais como a soberania, a paz social, o desenvolvimento sócio-econômico e a democracia. Diferentemente do gestor público que governa de acordo com ideias próprias ou da sua equipe administrativa, adotando postura personalista.
O estadista desce do palanque eleitoral que o colocou no comando do poder executivo, logo após a posse. Não perde tempo discutindo as picuinhas políticas do dia-a-dia. O empresário Antônio Ermírio de Moraes fazia bem essa distinção entre o estadista e o político oportunista: “Há uma nítida diferença entre o estadista e o político oportunista. O primeiro é alguém que pertence a nação; o segundo, alguém que pensa que a nação lhe pertence”.
O que identifica o estadista é a força mental em que se afirma a sua lucidez. Lidera pelo exemplo, sendo referência do comportamento que a sociedade deve ter. Ao estadista espera-se que atue com sobriedade e equilíbrio no trato com o adversário e com a população. Da mesma forma em que deva se manter afastado da intenção em ser “manipulador da opinião pública”, em favor dos seus interesses pessoais.
Nosso conterrâneo José Américo de Almeida dizia que “o homem de governo deveria ser, sobretudo, um técnico das ideias gerais”, o que equivale dizer que o gestor público deve ter o mínimo de conhecimento das demandas sociais dos seus governados, constituindo uma equipe com competência para assessorá-lo nas decisões a que seja instado a tomar. Deve agir com firmeza, sem demonstrar arrogância. Exercer o comando sem ameaças ou soberba e sem a necessidade de amedrontar para se fazer respeitado.
Chamo a atenção para essas reflexões na intenção de que possamos exercitar nossa consciência crítica no sentido de que saibamos distinguir o estadista do político oportunista.
(Imagem de Cícero, tribuno romano, estátua em mármore – Palácio da Justiça – Roma)
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