PENSAMENTO PLURAL Covid-19 e o mundo do trabalho, por Palmarí de Lucena
O que é o novo normal no pós-pandemia de Covid-19? É a reflexão que faz o escritor Palmarí de Lucena, abordando como o confinamento impôs uma mudança na rotina de trabalho para milhões de pessoas, que precisaram “readaptar suas salas de estar, transformar mesas de cozinha ou usar áreas de lazer para trabalho em domicilio, o chamado “home office””, que afeta um grande número de trabalhadores tipo “colarinho-branco”, condições de contrato e relações laborais. Confira a íntegra do comentário…
Após a adoção de medidas de confinamento para achatar a curva de contágio da Covid-19, milhares de trabalhadores tiveram que readaptar suas salas de estar, transformar mesas de cozinha ou usar áreas de laser para trabalho em domicilio, o chamado “home office”. Estudos serão realizados eventualmente, opiniões formadas sobre como a pandemia transformou a natureza do mundo do trabalho. Especialistas já começam a predizer a morte do escritório físico, adoção de horas de trabalho flexíveis e êxodo de trabalhadores de centros urbanos para pequenas cidades do interior.
É motivo de ceticismo por parte da força laboral, se estas mudanças vão se concretizar. O certo é que rotinas diárias de trabalhadores, principalmente os categorizados de “colarinho-branco”, experimentaram mudanças em pequena escala, muitas vezes quase mundanas, longe de ser uma era dourada de libertação para aqueles empregados em
tarefas administrativas, burocráticas ou de gerenciamento.
Estudo recente de pesquisadores da Harvard Business School, concluiu que empregados estão participando menos em reuniões presenciais e mais em videoconferências, enviando e recebendo e-mails mais frequentemente e trabalhando mais horas no seus domicílios. Análise de dados anônimos de mais de três milhões de pessoas em 16 cidades na América, Europa e Oriente Médio, coletados por um provedor de serviços de Tecnologia de Informação, mostrou que o número de pessoas participando em reuniões de trabalho aumentou 13%, em comparação ao período anterior ao confinamento, devido a diminuição na demanda por espaço físico e na duração das reuniões.
Segundo a Lei de Parkinson, “O trabalho expande-se de modo a preencher o tempo disponível para sua realização." No caso do trabalho em domicilio, as horas se expandiram para gastar tempo anteriormente usando para chegar e voltar do trabalho.
No caso das 16 cidades estudadas, pessoas trabalharam 48.5 minutos extras por dia, excedendo a media de deslocamento diário na América ou Europa. Isto é devido ao aumento de 8% no número de e-mails enviados depois do horário normal de trabalho.
Embora o trabalho em domicílio tenha suas vantagens, menos gastos com transporte, alimentação e vestuário, a prática apresenta grandes desafios ao estilo de vida de pessoas e famílias. Informatização de comunicações entre familiares e dependência de ferramentas eletrônicas, tende a minimizar e, às vezes, desencorajar interações pessoais frequentes entre cônjuges, pais, filhos ou vizinhos. Uma sociedade fragilizada pela falta de linha demarcatória entre o lar e o emprego, criando o chamado novo normal.
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