PENSAMENTO PLURAL Crianças e smartphones, por Palmarí de Lucena
Em sua crônica, o escritor Palmarí de Lucena observa como a “Internet se transformou em algo onipresente das nossas vidas, e por extensão, das vidas das nossas crianças”, e que assistentes pessoais como Siri, por exemplo, passam a oferecer um tipo de serviço, que deveria ser prestado por adultos, com as devidas ressalvas e filtros. As crianças passam a se “relacionar” com aplicativos assim, com a naturalidade de como estivesse conversando com adultos. Confira a íntegra do texto…
Siri é usada por adultos para adicionar um lembrete na agenda, fazer consultas telefônicas, lembrar de um aniversário ou encontrar o seu iphone e muitos outros casos de uso, principalmente verdade quando se trata de crianças. Algumas de suas perguntas têm várias respostas, outras oferecem uma simples resposta, fato que estimula a manterem-se online. Não é uma raridade ouvir uma criança fazendo uma pergunta ao Siri e seguida da resposta “eu não estou certa eu entendi sua pergunta”, resposta que deleita os pequenos usuários já que elas foram feitas para desafiar, não para aprender. Crianças sabem intuitivamente que não estão falando com uma pessoa, estão simplesmente se divertindo com um brinquedo.
Internet se transformou em algo onipresente das nossas vidas, e por extensão, das vidas das nossas crianças. Bebês aprendem rapidamente como deslizar os dedos em uma tela sensível ao toque, crianças podem encontrar seus favoritos vídeos no YouTube, mesmo antes de serem capazes de ler. Na altura do Jardim da Infância, muitas crianças já possuem prática extensa usando dispositivos moveis para acessar informação da Internet. Elas não só usam estes dispositivos, também amam usá-los. Pais reclamam que seus filhos levam iPhones ou iPads para a cama ou escolhem estes dispositivos como presente favorito, demanda que gera conflitos em famílias de renda insuficiente para adquirir tecnologia e manter os custos incrementais de aplicativos e jogos de marca.
Pesquisadores do Journal of Children and Midia dos Estados Unidos, pediram a adultos e crianças de 4 a 6 anos para identificar objetos comuns como computadores, tabletes, smartphone e um livro. Quase todas as crianças reconheceram os objetos eletrônicos e disseram que poderiam usá-los para jogos, assistir filmes e fotografar. Quando perguntados qual deles usariam para aprender sobre animais, eles usualmente identificaram o livro, adultos escolheram o computador. Experiência no uso de dispositivos tecnológicos, não aparenta motivar crianças jovens a usá-los para adquirir novos conhecimentos ou esclarecer dúvidas.
Uma razão pela qual crianças não consideram computadores ou smartphones utilizáveis para responder perguntas é que eles não apreciam quão é útil a Internet para acessar informação. Estudos mostram que algumas crianças descrevem a rede como algo que está dentro do computador, enquanto outros acreditam que vem de um objeto em suas casas, como por exemplo um roteador ou wi-fi. O que isto significa é que apesar de crianças observarem adultos baixando informações da rede, eles muitas vezes não têm a mínima ideia da origem da informação ou como ela é transmitida para eles.
Adultos devem conversar com crianças não só sobre a segurança da rede, acesso às mídias sociais e características mais básicas do Internet. O que é? De onde vem a informação e que tipos de questões que podem ou não serem respondidas? Pais e educadores podem se reconfortassem pelo fato de que crianças gostam de conversar com a Siri, porque não acreditam que assistentes virtuais sabem sobre o que estão dizendo. A prova final desta atitude é o fato que crianças se divertem quando perguntam a Siri algo que não podem ser respondidas, ou pelo entusiasmo que transmitem a adultos ao ouvirem “eu não estou certa eu entendi sua pergunta”…
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