PENSAMENTO PLURAL Desafios do mundo pós-pandemia, por Palmarí de Lucena
Em sua crônica, o escritor Palmarí de Lucena especula como, nos pós-pandemia, é possível que o mundo passe a conviver, dadas a crescente rivalidade, com duas grandes potências antagônicas, os Estados Unidos e a China, sem, contudo, que nenhum dos dois países seja dominante no cenário mundial. Mas, nesse cenário, Palmarí cogita que “renascimento das democracias pode reaquecer uma nova era de liderança mundial dos EUA, acompanhada de crescimento econômico, avanços tecnológicos e soluções para os problemas mais complexos do mundo”. Confira íntegra do texto…
Relatório intitulado “Global Trends” publicado recentemente pelo Conselho Nacional de Inteligência dos EUA, expõe um cenário global que provoca em uma população exausta pela pandemia um sentimento insuficiente de conforto, revelando ao concluir um quadro bastante sombrio e extremamente preocupante. Mirando em direção ao horizonte do tempo, o estudo vislumbra um mundo conturbado pela pandemia da nova coronavírus, devastações causadas por mudanças climáticas e concomitantes migrações, aumentando a brecha entre aquilo que o povo demanda dos seus líderes e o que eles podem realisticamente oferecer em retorno.
A pandemia é vista como pré-estreia de futuras crises, expondo a fragilidade do mundo contemporâneo, desafiando pressupostos sobre a capacidade de governos e instituições de responder coerentemente a uma catástrofe global, enquanto a emergência sanitária marcha impiedosamente, acelerando e exacerbando perigos de fissuras socioeconômicas que já começaram a surgir. Contempla-se que a paisagem mundial emergente será influenciada pela bipolaridade global fomentada na crescente rivalidade entre a China e os EUA, sem que nenhum dos protagonistas emerja como potência dominante. Competição continuada entre os dois grandes rivais, será possivelmente um agravante em um mundo propenso a conflitos e ambiente geopolítico global, cada dia mais volátil.
Renascimento das democracias pode reaquecer uma nova era de liderança mundial dos EUA, acompanhada de crescimento econômico, avanços tecnológicos e soluções para os problemas mais complexos do mundo. Do outro lado da moeda, poderemos experimentar uma amalgama de tragédia e mobilização social diante da escassez de alimentos provocada por catástrofes ambientais. Manifestações populares organizadas por jovens decepcionados pela falha de líderes durante a pandemia, demandando políticas de combate a efeitos do aquecimento global e desigualdade socioeconômica.
Fragmentação política, social e cultural está aumentando em praticamente todos os países do mundo. Segmentos importantes da população estão cansados de instituições e governos, por serem relutantes ou incapazes de atender crescentes necessidades durante e pós-pandemia, cujos efeitos nocivos vão permanecer por algum tempo, podendo inclusive moldar expectativas de governos por gerações. Aquecimento global pode gerar novos conflitos e na pior das hipóteses, insegurança alimentar difusa provocando a eclosão de atos de violência massiva.
Países que estimulam o uso de tecnologia e planejamento, ou seja, aqueles preparados para enfrentar as consequências inevitáveis do aquecimento global, estarão em melhor posição de administrar crises quando aconteçam. Em última análise, países que sucederem serão os capazes de adaptar-se a mudanças, de forjar um consenso social sobre o que deve ser feito para mitigar a devastação ambiental, eliminar os efeitos nocivos da má gestão de recursos naturais e otimizar investimentos em área vitimadas por desigualdade socioeconômica. Façanha difícil de suceder a exemplo do Brasil e seu sistema político deformado pelo extremismo, demagogia e mesquinharia política.
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