PENSAMENTO PLURAL E agora que a democracia venceu?, por Palmarí de Lucena
O escritor Palmarí de Lucena lembra, em seu texto a imensidade da “tarefa de redemocratização e a necessidade de restaurar credibilidade às instituições do Estado democrático, algumas delas severamente danificadas e quase irrelevantes”, e conclui que a “Democracia tem que vencer, depois da vitória eleitoral”. Confira a íntegra de seu comentário…
Tornamo-nos tão acostumados com más notícias, crises e disfunção, que é difícil aceitar que o ano de 2022 foi supreendentemente bom para a democracia, propostas de mitigação dos efeitos de mudanças climáticas, até um grau palpável de paz social. Podemos continuar a tendência de boas noticias, no entretanto, é necessário muita criatividade e maturidade politica para assegurar governabilidade e de um discurso pacificador diante de um quadro legislativo adversário, resistente a mudanças, predisposto a artimanhas do quiproquó, reforçado por forças globais resistindo avanços democráticos, cooperação multilateral e resolução pacifica de conflitos.
Aceitar que as coisas melhoraram nunca é sempre na moda, causam escassez de notícias bombásticas para manchetes de jornais e um clima de complacência. Repetir com preocupação ensaiada e uma boa dose de cinismo que muitas coisas ainda estão bagunçadas, com injustiças a serem enfrentadas, sofrimento humano a ser aliviado. Desde que absolutistas como Trump e Bolsonaro foram eleitos democraticamente, sofremos de um vicio frenético de alardear os perigos de extinção da civilização cristã ocidental, caso a supremacia das pautas culturais que advocam não prosperam, devido a desvios ideológicos de governos esquerdistas, meio ambientalistas e direitos humanos.
Apoiadores de governos democráticos e sociedades livres, não sucederão em consertar erros de governantes autocráticos, sem sentir confiança que democracia pode existir sem apresentar evidência tangível que pode funcionar para a maioria dos cidadãos, como aconteceu nos Estados Unidos em 2022 e que pode transformar o Brasil em 2023. Desastrosa invasão russa, corajosa resistência do povo ucraniano, extraordinária união mundial contra a agressão, são sinais óbvios que a indisposição democrática dos últimos anos está em declínio. Relativo sucesso de democracias no combate a covid-19, mesmo quando atropelados por caprichos de negativistas, contrastam com fracassos de políticas sanitárias do governo chines, descarrilhadas por desafios sem precedentes da população.
A maioria da Câmara de Deputados nos Estados Unidos e Brasil, está à direita do conservantismo tradicional, demonstrando pouco interesse em qualquer legislação social ou meio ambiental, preferindo usar o teto de gastos e outras manobras protelatórias, para emascular políticas sociais com pilhas de leis fomentando guerras culturais. Oposição direitista espera desacreditar governantes democráticos com CPIs e teorias de conspiração, demonstrando contundente desinteresse no bem-estar do povo em favor de interesse político, fazer governantes democráticos parecer disfuncional, inimigos dos interesses e tendências culturais do eurocentrismo cristão.
A democracia não pode ser comprometida por atalhos ou agendas políticas permitindo a lapidação do sistema eleitoral ou abrangência de instituições do estado democrático. Ampla maioria dos americanos e brasileiros enviaram uma mensagem clara que não existe uma razão racional para complicar o direito ao voto do cidadão ou de manter uma “guerra santa” contra a justiça eleitoral. Nações democráticas do mundo têm de reconhecer que avanços de 2022 podem ser revertidos, governos eleitos livremente estão sempre em estágio probatório. A única maneira de sustentar um regime democrático é assegurar o bem comum e promover a felicidade geral da nação.
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