PENSAMENTO PLURAL Entre abraços e memes: a deterioração da fraternidade na Era da Polarização, por Palmarí de Lucena
Em sua crônica, o escritor Palmarí de Lucena observa como a polarização política que enfrentamos hoje destrói a fraternidade que outrora unia nossa sociedade. “Abraços presidenciais, antes símbolo de conciliação, tornaram-se gestos vazios e cínicos. Cada demonstração pública se transforma em espetáculo, afastando o diálogo sincero. A recuperação da fraternidade é vital para construirmos o respeito e a saúde de nossa democracia”, pontua Palmarí. Confira íntegra…
A polarização política que enfrentamos, ou melhor, na qual sobrevivemos, tem corroído o espírito de fraternidade que outrora permeava nossa convivência social. Embora imagens de abraços presidenciais sejam frequentemente noticiadas, um olhar mais atento revela que o cinismo e o oportunismo político transformaram esses gestos em meras caricaturas, prontas para alimentar a fábrica de memes.
Essa erosão da sinceridade nas interações políticas reflete a crescente divisão que marca nosso tempo. Em uma era definida por extremos, a fraternidade, que deveria ser um vínculo inquebrantável, é frequentemente sacrificada no altar das disputas partidárias. O desejo incessante de vantagem transforma cada gesto de conciliação em espetáculo, um teatro no qual os atores estendem a mão com rapidez, apenas para retirá-la assim que as câmeras se desligam.
O que deveria ser um laço que nos une apesar das diferenças, tornou-se uma moeda de troca, utilizada estrategicamente para angariar pontos em debates ou construir uma imagem favorável antes de uma votação crucial. Assim, vemos o surgimento de uma cultura política que valoriza a forma em detrimento da substância, a imagem em vez da genuinidade.
Abraços, que em tempos menos cínicos eram símbolos de união e compreensão mútua, agora se repetem com tal frequência que perderam grande parte de seu significado. O público, cada vez mais cético, observa essas demonstrações de afeto forçado e enxerga não a promessa de uma liderança compassiva, mas a previsibilidade de um gesto vazio, ensaiado.
Essa transformação dos gestos fraternais em ferramentas de manipulação não é apenas sintomática de uma política doente, mas também alimenta um ciclo vicioso que perpetua a desconfiança e a divisão. Quanto mais descrédito se deposita nas intenções dos líderes, mais a polarização aumenta, incitando ações cada vez mais teatrais e desprovidas de substância.
Como nação, enfrentamos um desafio crítico: reavaliar os valores que esperamos de nossos líderes e de nós mesmos. A fraternidade genuína não pode ser tratada como uma relíquia do passado; deve ser um pilar fundamental para a construção de um futuro em que o diálogo e o respeito mútuo prevaleçam sobre o desdém e a disputa. A recuperação desse espírito fraterno é vital, não apenas para a saúde de nossa democracia, mas para a própria alma de nossa sociedade.
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