PENSAMENTO PLURAL Entre o menos pior e a reforma necessária, por Palmarí de Lucena
Às vésperas do segundo turno, eleitores enfrentam o dilema de escolher o “menos pior” entre candidatos envolvidos em corrupção, promessas vazias e alianças duvidosas, observa o escritor Palmarí de Lucena em sua crônica, em que defende “a urgência por reformas no sistema eleitoral brasileiro é inegável”. Confira íntegra…
Com a proximidade do dia 27 de outubro, os eleitores brasileiros se veem diante de um dilema inevitável: escolher o próximo prefeito. A obrigatoriedade do voto intensifica essa pressão, levando muitos a tomarem uma decisão que impactará diretamente suas cidades. A análise criteriosa de propostas, históricos e partidos torna-se indispensável, assim como a avaliação da seriedade e compromisso de cada candidato. No entanto, a falta de opções genuinamente comprometidas é evidente. A escolha, muitas vezes, se limita ao “menos pior”. E surge a pergunta: devemos nos contentar com tão pouco?
No segundo turno, o cenário se agrava. Restando apenas dois candidatos, a escassez de boas opções fica ainda mais evidente. Três fatores contribuem para esse impasse, desafiando a inteligência e o bom senso dos eleitores. Após descartar várias alternativas no primeiro turno, o eleitor se vê compelido a optar pelo “menos pior” para evitar que o pior, já excluído, seja eleito.
Um fator decisivo nesse dilema é o histórico dos candidatos. Muitos foram acusados ou condenados por crimes como improbidade administrativa, corrupção e compra de votos. Políticos com ‘ficha suja’ ou processos judiciais em andamento são eliminados por eleitores conscientes. No entanto, a corrupção não é o único problema. A covardia intelectual também permeia esse cenário. Muitos candidatos se mostram incapazes de enfrentar crises com seriedade. Em vez de assumir responsabilidades, preferem se esquivar, ignorando questões urgentes, como a má gestão da pandemia e a cumplicidade com o negacionismo e ataques às instituições democráticas. Essa negligência deliberada, aliada a alianças suspeitas e interesses pessoais, aprofunda a desconfiança popular.
Outro ponto crucial é o financiamento das campanhas. O ditado “quem paga a banda escolhe a música” segue implacável. Candidatos com campanhas milionárias frequentemente têm seus compromissos atrelados a interesses financeiros de poderosos que, através de emendas e acordos ocultos, financiam suas candidaturas. O custo exorbitante dessas campanhas gera expectativas de retorno que frequentemente resultam em benefícios pessoais, contratos fraudulentos e licitações direcionadas.
Além disso, candidatos que prometem mais do que suas capacidades legais ou orçamentárias demonstram despreparo. Promessas de construir escolas ou hospitais, sem competência ou orçamento para tal, são claras tentativas de manipulação. Prometer “mudar tudo” sem planejamento ignora a importância da continuidade e da estabilidade. Mudanças radicais sem uma base sólida podem comprometer toda a estrutura do país. Assim, os eleitores precisam tratar essas promessas com extrema cautela.
A constante mudança de legendas e a lógica partidária distorcida também confundem o eleitor. Com tantas distorções no sistema, é difícil entender claramente a quem o voto realmente beneficia. Fica claro que o sistema político brasileiro necessita urgentemente de reformas. A obrigatoriedade do voto, o tempo desigual de TV e o quociente partidário são aspectos que precisam ser revisados para que o processo eleitoral se torne mais justo e transparente.
No fim dessa reflexão, surge a pergunta: ainda há alguém digno de nosso voto? Será que sempre seremos forçados a escolher o “menos pior”? A resposta depende da capacidade de reforma do sistema político e da restauração da confiança dos eleitores. O voto deve representar mais do que uma escolha entre duas opções insatisfatórias. Apenas com mudanças substanciais no sistema eleitoral poderemos sonhar com um cenário onde o voto verdadeiramente represente a vontade do povo.
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