
Em seu comentário, o escritor Palmarí de Lucena discorrer como, na forma de espelhos do tempo, “a Lagoa do Paó, a Pedra do Ingá e o Vale dos Dinossauros revelam mais que paisagens — são convites à imaginação, à memória e à ação responsável”. São, ainda segundo o autor, “patrimônios vivos, exigem cuidado constante, visão sustentável e valorização cultural. Quando vistos com intenção, devolvem ao país o reflexo de um futuro possível, construído sobre raízes profundas”. Confíra íntegra…
Há lugares que sussurram à história com a força silenciosa do que ainda guarda valor. São espaços que persistem — mesmo em meio ao desgaste do tempo — como convites à imaginação, à responsabilidade e ao futuro. A Lagoa do Paó, em Alagoa Grande; a Pedra do Ingá, com suas inscrições milenares; e o Vale dos Dinossauros, em Sousa — todos compartilham uma mesma condição: a de portadores de significados que vão além da paisagem. São espelhos de potencial.
A Lagoa do Paó expressa, em suas águas, um retrato delicado da convivência entre patrimônio natural e desafios urbanos. A presença da baronesa — planta aquática que prospera em ambientes com excesso de nutrientes — indica um ecossistema sob pressão. Embora melhorias visuais, como calçadões e iluminação, tenham sido realizadas, há aspectos estruturais que ainda demandam atenção contínua. Apesar disso, o cenário permanece promissor: o clima ameno, a localização acessível e a vocação natural da lagoa sugerem possibilidades reais para o desenvolvimento de atividades como canoagem, remo e stand-up paddle, com impacto positivo sobre o turismo e o bem-estar coletivo.
No sertão de Sousa, o Vale dos Dinossauros oferece um exemplo relevante de ressignificação de um patrimônio natural. A revitalização das trilhas e do museu, associada à visibilidade conquistada em publicações especializadas, demonstrou que é possível integrar preservação científica, visitação qualificada e desenvolvimento regional. O local passou a acolher não apenas vestígios do passado remoto, mas também o interesse contemporâneo por ciência, educação e história.
Já a Pedra do Ingá continua a inspirar perguntas que o tempo ainda não respondeu. Suas gravuras rupestres, marcadas há milhares de anos, permanecem abertas à interpretação. O sítio, embora acessível ao público e dotado de estrutura básica, requer esforços permanentes de conservação, documentação e mediação cultural. O cuidado com esse patrimônio não se restringe à proteção física: ele se estende ao estímulo à pesquisa e à valorização educativa de sua simbologia.
Esses três pontos — lagoa, pedra e vale — simbolizam mais que atrativos turísticos: são espaços de memória e possibilidade. Cada um, à sua maneira, oferece caminhos distintos para o fortalecimento de um turismo cultural, ecológico e educativo. O desafio maior está na continuidade: ações pontuais, quando não acompanhadas por planejamento de médio e longo prazo, tendem a se perder no tempo.
Zelar por esses locais é reconhecer seu valor intrínseco e seu papel estratégico no desenvolvimento regional. A manutenção preventiva, os investimentos em infraestrutura sustentável e a capacitação de profissionais da área são partes indispensáveis desse processo. Não se trata apenas de preservar o que resta, mas de ativar o que está latente — com responsabilidade, sensibilidade e visão.
Ao refletir sobre a vocação desses lugares, compreende-se que o futuro se constrói com escolhas fundamentadas no presente. A Lagoa do Paó pode tornar-se referência esportiva. A Pedra do Ingá pode se afirmar como centro de pesquisa e visitação. O Vale dos Dinossauros já demonstra o que acontece quando há convergência entre cuidado e propósito.
Nenhum espelho devolve a imagem daquilo que não se quer ver. Mas quando olhamos com intenção, compromisso e respeito, esses espelhos — naturais, históricos, simbólicos — podem refletir algo raro: um país que reconhece seus valores antes que eles se percam.
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