PENSAMENTO PLURAL Feliz Natal Papai Noel, por Palmarí de Lucena
Em sua crônica, o escritor Palmarí de Lucena trata da “memória natalina, como resgate de tradições, esperança de um futuro mais verde, menos tóxico e bom para todos nós”, discorrendo sobre o mito do Papai Noel, desde as suas origens, como São Nicolau de Mira, “conhecido por sua caridade, imensa generosidade e milagres”. Confira íntegra de seu comentário…
Comemorações natalinas provocam uma imprevisível mixórdia de luzes, cores e sons, transformação de uma celebração religiosa no ponto alto no calendário do comércio varejista. Imagens de um velhinho barrigudo, grisalho e barbudo, vestido em roupa vermelha, enorme saco nas costas, viajando mundo afora em um trenó puxado por oito renas, visão fantasmagórica, desprovida de qualquer conexão com a cultura, clima ou música do Hemisfério Sul. Realidade imaginada de uma figura palpavelmente humana por crianças, presentes e benesses atestam o amor e a bondade do personagem.
Lenda de Papai Noel originou-se na história de um monge canonizado pela Igreja como São Nicolau de Mira, no ano de 350. Conhecido por sua caridade, imensa generosidade e milagres que lhe atribuíram, transformou-se no em um símbolo ligado diretamente ao nascimento do Menino Jesus, padroeiro das crianças, um dos santos mais conhecidos e venerados da cristandade. Países lusófonos usam uma adaptação do nome francês “Père Noël”, enquanto os anglófonos optaram por uma variação de “Sínter Klass “, São Nicolau em holandês. A imagem atual, teve sua origem em uma campanha publicitária da Coca-Cola, nas décadas de 1920 e de 1930. Religião e o capitalismo se uniram para criar a jocosa caricatura do bom velhinho, grande triunfo do marketing moderno.
Convivemos nos últimos anos com celebrações natalinas em perene mudanças, diminuindo possibilidades de rebobinagem dos rituais, que seguimos por muitos anos.
Transformados em ilhas distantes pela pandemia, arquipélagos desconexos por diferenças políticas, valorizando memórias distantes daquelas noites cheirando à família, a ceia de Natal produzida por uma alegre e barulhenta linha de produção, arriscando desastres culinários devido a alta densidade de chefs, crianças disputando frituras de pedaços de massa ou raspando fundos de panelas.
Entrega de presentes pontilhada por episódios de curta atenção infantil, alternando entre doces e brinquedos, a inevitável dor de barriga. Pequenas mostras de precocidade, acomodação de diversas tendências e estilos artísticos animavam o ambiente. Tentativas de humor adulto e brincadeiras por protagonistas do ritual de “amigo secreto”, reciclando velhas estórias, todos falando em voz alta de uma só vez. Vai-e-vem de crianças, tolerado com um quase impercebível dar de ombros, o Natal era deles.
Natal na nossa casa não era diferente, salvo uma pequena nuance: éramos privilegiados pela presença constante da figura de Papai Noel, parte do repertório temático do adulto-criança Tenente Lucena, nosso pai. Crianças tinham uma certa desconfiança sobre quem era o homem gordo, de barba branca, carregando um enorme saco de presentes, achavam o personagem parecido um pouco com “Vovô”, no entretanto, preferiam acreditar na existência de Papai Noel, os dois eram siameses. Memórias do carinho e bondades com as crianças, mostras solidariedade e irrestrita dedicação à humanização das pessoas, nos inspiram a procurar o caminho de Damasco, um escape das prisões de arquipélagos nebulosos obstruindo visões de um futuro melhor, de paz e harmonia.
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