
Em seu comentário, o professor Emir Candeia defende como acertada a decisão do ex-presidente Bolsonaro em escolher seu filho, o senador Flávio Bolsonaro, como o candidato para a disputa pela Presidência da República, no momento em que outros nomes, com Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado e Romeu Zema se insinuam para a a disputa, pela direita. Emir, então, declina os motivos de concordar com a escolha. Confira íntegra...
Por que a escolha faz sentido para o bolsonarismo — e por que ela incomoda parte do mercado e da esquerda. A sinalização de Jair Bolsonaro de que Flávio Bolsonaro deve liderar a candidatura presidencial de 2026 não é um gesto doméstico, nem mero simbolismo familiar. É, sobretudo, um movimento de continuidade política: manter vivo um campo eleitoral, preservar um projeto e impedir que a sucessão vire disputa interna.
Na prática, a lógica é simples: quando o líder não pode entrar em campo, o movimento precisa de um capitão. E, para o bolsonarismo, esse capitão precisa cumprir quatro requisitos: unir a base, manter a marca viva, ser viável para costurar alianças, e ser coerente com os princípios do movimento.
Flávio, senador e politicamente o mais estabelecido entre os filhos, aparece como o nome que melhor encaixa nesse pacote.
1) Unidade e marca: o sobrenome como “cola” do movimento. Política, às vezes, funciona como comércio de bairro: quando o dono de uma marca forte não pode mais atender no balcão, ele coloca alguém de confiança com o mesmo nome na placa. Isso diminui dispersão, reduz incerteza e ajuda a impedir que a base se fragmente em múltiplas candidaturas.
2) “Herdeiro com mandato” e capacidade de articulação. Flávio não entra como estreante. É senador, tem presença em Brasília e histórico político. Isso importa porque eleição presidencial exige máquina, palanque estadual, bancada e capilaridade — não apenas carisma e redes sociais.
3) Economia com previsibilidade + combate ao crime: a agenda completa. A defesa da escolha ganha densidade quando deixa de ser apenas “continuidade” e se torna plano: Economia e desenvolvimento com previsibilidade: ambiente de negócios menos instável, estímulo ao investimento, produtividade e destravamento de gargalos. Sem previsibilidade, o país vira um carro acelerando com o freio puxado.
Segurança pública como prioridade nacional: segurança como pré-condição do desenvolvimento. Crime alto é “custo Brasil” armado: afasta investimento, encarece seguro, desorganiza comércio e limita turismo.
4) Política externa pragmática: independência sem “amarras ideológicas”. O eixo é defender reinserção internacional por interesse nacional, e não por alinhamento automático a blocos ideológicos. Em termos diretos: parceria sem submissão, negociação com todos, prioridade ao que entrega resultado para o Brasil.
5) Romper estruturas arcaicas e cartoriais: o Estado que trava o Brasil. A tese se fortalece quando mira o inimigo cotidiano do brasileiro: burocracia, travas, privilégios e o “pedágio invisível” do Estado. Desenvolvimento exige um Estado que funcione e pare de punir quem produz.
6) Um país que não viva de “agenda de tela”: menos tutela da mídia, menos tributação como vício e menos identitarismo como política pública. Aqui entra um ponto que, para o bolsonarismo, é central: governar sem ficar refém de três atalhos que dominam o debate público: Mídia como árbitro do país: a crítica não é à existência de imprensa, mas à ideia de que o Brasil não pode ser administrado no “modo manchete”, onde a prioridade vira agradar editoriais e ciclos de escândalo, e não resolver problemas concretos.
Cobrança de imposto como resposta automática: em vez de “aumentar arrecadação para depois pensar”, a lógica seria “enxugar ineficiência e destravar crescimento”. Imposto alto, para muita gente, vira um freio permanente na produção e no consumo.
Identitarismo como eixo do Estado: o argumento é que o governo deve tratar cidadãos como iguais perante a lei e concentrar energia em segurança, renda, educação de base, saúde e infraestrutura — sem transformar políticas públicas em disputa de rótulos.
Em linguagem simples: governar mais como gestor de obra do que como curador de narrativa. Um risco assumido: reação de parte do mercado e disputa por alianças.
A escolha tem custo político: incomoda setores que prefeririam um nome “mais palatável” para manter acordos tradicionais. O desafio é crescer para o centro sem perder a base, ampliar alianças sem diluir identidade e transformar “continuidade” em proposta executável.
Conclusão: a defesa da escolha de Flávio se resume a uma tese clara: ele preserva a unidade do bolsonarismo e tenta ampliar a pauta para além do símbolo, com um núcleo de prioridades que conversa com a vida real — previsibilidade econômica, ordem na segurança, pragmatismo internacional, enfrentamento do cartorialismo e a promessa de um país menos refém de agenda midiática, aumento de impostos e identitarismo.
Se isso vira maioria, dependerá menos do sobrenome e mais da execução: plano, equipe, método e capacidade de construir maioria política sem abrir mão do que dá identidade ao movimento.
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