PENSAMENTO PLURAL Guerra, armas e paz, por Ricardo Sérvulo
Na madrugada da última quinta-feira 24, o mundo foi surpreendido com a notícia de que a Rússia havia iniciado os bombardeios contra a Ucrânia, cenário que já se pronunciava há dias em um possível desfecho desse quadro com tal resultado. O fato é que, questões como localização geográfica e possíveis viabilizações de avanços terrestres militares através do território do país sob ataque russo, questões econômicas e financeiras (um gasoduto da Rússia que passa no território ucraniano e que garante a distribuição do produto à Europa), bem como o alinhamento ideológico e político com os EUA, além da velha rusga de ter pertencido à seara do Kremlin e haver se libertado dele fazem com que o sabor de revanche da Rússia contra a Ucrânia ganhe um fetiche todo especial a ponto de sofrer duríssima ofensiva militar.
A guerra não é um evento cercado de novidade alguma, contrariando a inocência dos mais jovens e cidadãos incautos existe desde que o mundo é mundo, ocupa o recôndito, a parte mais sombria da natureza humana. Sim, pura e simples sim, a raça humana sente uma necessidade e um condão imperativos de tentar subjugar uns aos outros. A disputa marcou nossa ancestralidade e o faz e o fará pra todo o sempre. Logo, tais eventos são esperados a todo instante em todas as épocas e culturas da humanidade, dos mais rústicos tribais, aos mais rebuscados detentores de avançadas tecnologias e níveis civilizatórios.
O que muda são os meios utilizados pelos exércitos conflitantes, antes, arco e flecha, hoje, caças ultramodernos que possuem vasto sistema de varredura e sofisticados sistemas de computadores. Só para que se tenha uma vaga noção, cada bomba de alto potencial lançada pela Rússia chega ao incrível patamar de um custo de 100 mil dólares, sendo arremessada por um avião que vale 100 milhões de dólares e que voa a um gasto de 40 mil dólares a hora. Vê-se claramente um uso de equipamentos extremamente modernos, sofisticados e dispendiosos.
Como visto, esse fenômeno sociológico e antropológico humano é praticado por nossos antepassados há muito tempo, que o faziam basicamente pelas mesmas razões que animam a sua prática moderna.
Em se tratando do “inimigo” dos russos, em 1994 aconteceu um fato singular. A Ucrânia se comprometeu a destruir e ou entregar seus mísseis atômicos à Rússia em troca de não sofrer retaliações nem ataques ao seu território por parte dela, como também ter o reconhecimento de sua autonomia política e administrativa, e sua independência, fato que fora assistido e chancelado pelos Estados Unidos e pela Inglaterra. Pois bem, pressionados pelas circunstâncias e com a espada russa sobre sua cabeça, os ucranianos toparam a condição proposta por sua ex-república soviética.
Ao assim proceder, renunciando ao seu armamento nuclear, a Ucrânia se despiu de sua única e veemente garantia de não ser atacada por quem quer que seja. Nessa linha, veja-se o exemplo da Coréia do Norte. O país comunista que é governado sob a tirania de seu líder, Kim Jong-un, líder do Partido dos Trabalhadores da Coreia, desde 2012, sendo o terceiro déspota de uma linhagem que começou com o seu avô, Kim II – sung, que governou de 1948 a 1994 , tendo sido sucedido por seu filho, Kim Jong-il, pai do atual presidente da nação coreana do norte, havendo governado de 1994 a 2011. É de perguntarmos: por que ninguém ousa atacar a Coreia do Norte, mesmo ela sendo odiada pela maioria do mundo ocidental detentor de forte aparato militar? Fácil de responder: ela tem armamento nuclear capaz de destruir qualquer país do mundo. E isso a blinda de todo assédio militar contrário. Nesse sentir, vale o velho provérbio popular: ninguém é respeitado sem se fazer respeitar.
Ora, todo estudante mais desavisado de política e relações exteriores sabe que as armas e os exércitos fortes são as únicas garantias de um país se impor nos cenários mundiais, sob o aspecto de não ser ameaçado ou atacado; isso é fato, desde sempre. A Ucrânia não aprendeu ou ignorou essa lição básica, quando abriu mão de seu acervo atômico em 1994, conforme mencionamos. Ressalte-se, aqui não estamos dando o aval à conduta da Rússia, apenas registramos uma constatação histórica e verdadeira na convivência entre os povos e as nações ao redor do mundo e do tempo.
Por último, nunca é demais rememorarmos outro ditado celebremente cunhado pelos romanos: “Si vis pacem, para bellum”, que pode ser traduzido como, “se queres a paz, prepare-te para a guerra” (geralmente interpretado como querendo dizer paz através da força – uma sociedade forte sendo menos apta a ser atacada por inimigos). A frase é atribuída ao autor romano do quarto ou quinto século, Flávio Vegécio, ou seja, coisa nada nova.
Impende refletirmos: a história não é muito criativa, ao contrário, possui caráter bem previsível, ela sempre se repete nos mais variados palcos e universos fáticos.
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