PENSAMENTO PLURAL Irmãos camarada, por Gal Gasset
A pensadora paraibana Gal Gasset encaminhou novo texto ao Blog, abordando um tema muito atual na Paraíba, que é precisamente o compadrio entre irmãos. A Operação Calvário, por exemplo, enquadrou os irmãos Ricardo e Coriolano Coutinho, ora usando tornozeleiras, por conta de suas, digamos, traquinagens, reveladas pelo Gaeco. Confira a íntegra do texto “Irmãos camaradas”:
A Páscoa nos deixa emotivos, e assim me vi pensando na relação entre irmãos. Irmão, no sentido estrito, é aquele que, em relação a outrem, é filho do mesmo pai e/ou mesma mãe. Os irmãos August e Luois Lumiére são conhecidos como os criadores do Cinema. Na verdade, eles marotamente espoliaram o invento de León Bouly, registrando o aparelho cinematógrafo em 1895. Treta grande essa, só comparável à dos Irmãos Wright com Santos Dumont, quanto à paternidade da Aviação.
A produção de cinema exige uma equipe de muitas pessoas. Talvez por isso seja comum ver irmãos envolvidos nas filmagens. No Brasil, são reconhecidos os irmãos cineastas Walter Salles Jr. (Central do Brasil, 1998) e João Moreira Salles (Entreatos, 2004). João produziu os últimos filmes de Eduardo Coutinho, considerado o principal documentarista brasileiro, que foi tragicamente morto por seu próprio filho, acometido por um surto psicótico, em 2014. O parricídio é um dos piores horrores humanos. Eduardo Coutinho foi o diretor do filme “Cabra marcado pra morrer”, que teve as filmagens iniciadas em 1964 e concluídas apenas vinte anos depois. A película narra a vida de Elizabeth Teixeira, viúva de Zé Pedro, morto em Sapé (PB) no bojo de lutas do Campo. Considerado um clássico do cinema nacional, o filme espelha a trajetória brasileira no período que vai do golpe militar à reabertura política.
Na equipe de produção do filme “Cabra Marcado pra Morrer” estava Vladimir Carvalho, paraibano de Itabaiana, que despontou como documentarista na onda do Cinema Novo. O irmão mais novo dele, Walter Carvalho, veio também a ser um reconhecido cineasta (Carandiru, 2003; e cinebiografias de Cazuza, 2004 e Raul Seixas, 2012). Walter Carvalho também assina a direção e a fotografia de séries e novelas globais (Amor de Mãe, 2019 e Onde Nascem os Fortes, 2018). Ainda bem que existe gente dessa estirpe para nos inspirar!
Realidade e ficção por vezes se confundem. Na prefeitura municipal de João Pessoa, estão os irmãos gêmeos Luciano e Lucélio Cartaxo. Eles são idênticos e atuam em conjunto. O primeiro é prefeito e o segundo é o chefe de gabinete dele. Nas fatídicas eleições de 2018, Lucélio, o dublê, foi candidato a governador. Caso fosse eleito, seria o primeiro caso de uma mesma pessoa, duplicada, assumir a prefeitura e o governo ao mesmo tempo. Para uma profissão que se utiliza muito da imagem, ter um irmão em xerox é uma vantagem e tanto. Custo a crer, mas falam os maledicentes que o número dois, Lucélio, substitui o irmão prefeito, passando-se por aquele, em eventos mais aborrecidos, como a votação do orçamento participativo. Mas não, isso é não é possível.
Vejam que por aqui as anedotas fraternais não são incomuns. Os irmãos Ricardo e Coriolano Coutinho, que ganharam destaque nacional, não pelas políticas sociais prometidas e propaladas, mas pelo mega esquema de corrupção nunca visto, nem aqui nem na China, no momento estão juntinhos cumprindo restrições penais. Ricardo Vieira Coutinho teve uma carreira aparentemente admirável. Líder classista, elegeu-se vereador, deputado estadual, prefeito e governador. Era tido como “o” gestor. Com estupefação, percebeu-se que o (in)competente administrador era na verdade Daniel Gomes da Silva, donatário da Cruz Vermelha (sucursal do Rio Grande do Sul). Vocês viram que iniciei falando de fraternidade, mas acabei tendo que lembrar daqueles personagens da Disney, os Irmãos Metralha.