O professor Emir Candeia, em sua crônica, repercute o atual contencioso entre o presidente Trump e o presidente Lula, a partir da elevação para 50% das tarifas de importações brasileiras. Um patamar que está acima dos demais países, com os quais os Estados Unidos travado este embate tarifário. Emir culpa Lula pelo aumento da tarifa. Confira íntegra…
O presidente Lula, ao reagir de forma ideológica e precipitada às ameaças de tarifas feitas por Donald Trump, cometeu um equívoco estratégico que pode custar caro ao Brasil em empregos, exportações e investimentos.
O Brasil representa menos de 2% das importações dos Estados Unidos. Já os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil. Isso significa que, se os EUA fecharem as portas para produtos brasileiros, nós sentimos. Se o Brasil faz o mesmo com produtos americanos, os EUA nem percebem.
O Brasil é como uma mercearia de bairro que compra a maior parte de suas mercadorias em um grande supermercado (os EUA). Se o supermercado deixa de vender para a mercearia, ela sofre. Mas se a mercearia para de comprar, o supermercado nem nota.
As bravatas do governo brasileiro só piorou a situação? Trump declarou que, se eleito, aumentaria tarifas de importação para proteger a indústria americana. Até aquele momento, o Brasil não era o alvo principal. As tarifas de 10% sobre aço e alumínio já estavam previstas, e não havia hostilidade declarada.
Lula respondeu com declarações públicas provocativas, como: “O mundo mudou. Nós não queremos um imperador.” (durante o encontro do BRICS). Também: “O Brasil é um país soberano… não aceitará ser tutelado por ninguém.” E ameaças de “reciprocidade econômica” via nota oficial da Presidência.
Essas falas foram lidas como um ataque político-ideológico. Resultado? Trump respondeu subindo o tom e cogitando tarifas de até 50% sobre todos os outros produtos brasileiros.
A política externa não é Palanque e nem lugar para discursos de campanha. Quando um presidente age com viés ideológico em assuntos comerciais, ele: Personaliza o conflito, tornando-se alvo direto.
Se um funcionário briga com um dos maiores clientes da empresa por opinião política, ele não está defendendo valores —pode colocar a empresa em risco.
A situação lembra uma cena de circo mal montada. O palhaço que deveria apenas animar a plateia com leveza e inteligência, mas decide provocar o leão para arrancar aplausos do público. Faz piada, gesticula, cutuca o leão com palavras. O problema é que o leão não está brincando — ele reage.
O palhaço sai do papel de articulador e vira alvo. A graça vira risco.
Conclusão: o governo Lula trocou estratégia por ideologia, diálogo por discurso, cautela por confrontação. O ex-embaixador Rubens Barbosa foi direto: “Até aqui o Brasil estava bem… agora demos uma justificativa para o Trump aumentar essas tarifa”. Com isso, o Brasil pode perder muito mais do que tarifas. Pode perder confiança internacional, competitividade e oportunidades de investimento.
Em vez de fazer cena para a plateia, o Brasil precisa de diplomacia técnica, silenciosa e eficaz. Porque, em política externa, o verdadeiro estrategista é aquele que age nos bastidores — não quem tenta brilhar no picadeiro.
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