Em seu comentário, o professor Emir Candeia faz uma crítica em relação ao engajamento de setores da mídia, que temina por beneficiar um espectro político, em detrimento de outro, especialmente quando este segmento se trata da oposição. “Efeito dominó: poder reforça poder: quem já tem mandato, dinheiro do fundo partidário e domínio da máquina pública fica ainda mais forte porque aparece mais na mídia”, pontua. Confira íntegra…
Por que a imprensa só fala nos candidatos do sistema de poder? Visibilidade já garantida: quem já está no governo (estadual, federal, assembleia, prefeituras) já ocupa espaço institucional. Eles são citados nas matérias do dia a dia porque estão presentes nos acontecimentos públicos, liberam verbas, anunciam obras, tomam decisões. Assim, ganham mídia gratuita, mesmo sem fazer campanha.
Interesses cruzados: boa parte da imprensa regional depende de verbas públicas — seja em forma de publicidade institucional, seja em contratos. Criticar demais ou dar espaço a quem desafia o sistema pode cortar essas verbas. Então, a imprensa tende a manter a pauta dentro do círculo de quem já manda.
Narrativa pronta e fácil: é mais fácil para os jornais, rádios e TVs falar de quem já está na vitrine: eles têm material pronto, assessores de imprensa, agendas públicas. Candidatos ou políticos “de fora” precisam trabalhar muito mais para aparecer, porque não têm máquina nem rede de comunicação estruturada.
Alinhamento político: na Paraíba (e no Nordeste em geral), muitos veículos de comunicação seguem a linha do governo estadual ou federal, seja por convicção, seja por sobrevivência econômica. Assim, nomes que desafiam esse bloco são ignorados ou minimizados. É como se a imprensa reforçasse a narrativa oficial, deixando opositores no escuro.
Efeito dominó: poder reforça poder: quem já tem mandato, dinheiro do fundo partidário e domínio da máquina pública fica ainda mais forte porque aparece mais na mídia. Quem não tem, além de lutar contra a estrutura, luta contra o apagamento midiático. Isso cria um ciclo vicioso onde os mesmos grupos continuam no topo.
Isso não é só um problema da Paraíba ou do Nordeste — é um traço estrutural da política brasileira, onde a mídia tradicional opera como parte do jogo de poder, não como observadora neutra. Quem controla máquina, controla dinheiro, pauta e visibilidade. Quem está fora, mesmo com boas ideias, precisa quebrar várias barreiras para furar essa bolha.
Se formos pensar em democracia real, esse mecanismo prejudica a diversidade de vozes. Ele reforça um oligopólio político-midiático que mantém as velhas alianças no poder e desincentivo a renovação.
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