PENSAMENTO PLURAL… MIT e universidades públicas do Brasil, por Emir Candeia

O professor Emir Candeia revela que seu comentário foi baseado em recente postagem do professor Anderson Ribeiro Correia reitor do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), e trata de um comparativo entre as universidades federais do Brasil, e cita como exemplos a UFPB e a UFCG, com algumas instituições como o MIT, dos Estados Unidos, utilizando vários indicadores, como salários e performances acadêmicas. Confira íntegra...

1) Salário e incentivos. O MIT tem 9 salários aoano, e o restante depende de captação externa. As Universidades Federais tem 12 salários mais 13º “chova ou faça sol”. Diagnóstico: o MIT atrela renda a resultado, já as UFs pagam por presença. Analogia: no MIT, o professor marca gol para ganhar bônus, enquanto aqui (no Brasil), o placar independe do salário.

2) Consultoria e empreendedorismo. MIT tem 1 dia por semana para consultoria/empresa própria — ponte direta com o mercado. Nas UFs não é proibido, mas é raro e desincentivado pela burocracia e a cultura. Diagnóstico: quem tenta empreender “pede licença da licença”. O timing do mercado se perde.

3) Endowment (doações externas) e ex-alunos. No MIT, endowment supera R$ 100 bi, que rende bolsas e infraestrutura. Nas UFs, a dependência é quase total do orçamento público, porque a cultura de doação é quase inexistente. Diagnóstico: sem poupança institucional, tudo vira “pagar contas”, não acumular capacidade.

4) Propriedade intelectual e royalties. No MIT, patente vira licenciamento, royalties e tecnologia na rua. Nas UFs, pesquisa vira currículo, progressão e bolsa; pouco licenciamento efetivo. Diagnóstico: paper é meio no MIT e fim nas UFs. Cotidiano: produto que poderia ir à prateleira fica no PDF.

5) Missão orientada a problemas da sociedade. No MIT, até a básica tem vetor para desafios reais. Nas UFs, há dificuldades de converter ideias em produto/serviço para indústria/municípios. Diagnóstico: a régua mede “publicação”, não solução implementada.

6) Sala de aula. No MIT, há laboratório, projeto, liderança, empreendedorismo como prática. Nas UFs, majoritariamente teoria e algumas poucas exceções confirmam a regra. Analogia: “aula de direção” só com apostila, sem carro.

7) Governança e cobrança. No MIT, há comitê de busca, sem mandato fixo, e o desempenho derruba ou mantém. Nas UFs, eleição, mandatos fixos, pouco vínculo a metas, há pouca consequência por baixa entrega. Diagnóstico: gestão gira em torno de coalizões internas, não de contratos de resultado.

8) Vida no campus e foco. No MIT, a moradia estudantil é forte e a concentração favorece inovação. Nas UFs, residências escassas/fora do campus, multicampi que dispersa recursos e foco. Diagnóstico: menos densidade, menos “colisão” criativa.

9) Natureza jurídica e missão de receita. No MIT, há o privado sem fins lucrativos, com missão mais sustentabilidade financeira. Nas, UFs, políticas públicas sem fins lucrativos, receita que vem governo. Diagnóstico: sem diversificação de fontes, falta margem de manobra para premiar o que dá certo.

10) Títulos e símbolos. No MIT, nada de honoris causa por fama/cheque, apenas por mérito acadêmico real. Nas
UFs, existem as honrarias frequentemente simbólicas/ideológicas. Diagnóstico: sinal errado: crédito por visibilidade, não por ciência/tecnologia entregue.

Conclusão: “Sistema sem bússola, sem placar”. As universidades públicas têm gente boa e ilhas de excelência, mas o sistema premia ritmo, não rumo; ritual, não resultado. É um time que treina todo dia, faz coletiva, cumpre tabela — mas não tem placar oficial e ninguém cai se não entregar.

Enquanto a carreira, o orçamento e o prestígio forem definidos por quantidade de papel e capital político interno, e não por impacto verificável, seguiremos “sem rumo”. O MIT funciona porque tudo (governança, salário, PI, endowment, sala de aula) aponta para aprender–fazer–transferir.

Aqui, a seta aponta para cumprir calendário.  “Endowment” é um fundo patrimonial de longo prazo de uma instituição (ex.: universidade). Ele é formado por doações que são investidas; a instituição usa só uma parte do rendimento anual (e não o principal) para pagar bolsas, laboratórios, manutenção etc.

 

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